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Memorial potencia crescimento do turismo no Cuito Cuanavale

O Cuito Cuanavale promete transformar-se num dos maiores pontos de atracção turística do país pelas potencialidades do memorial nele erguido em homenagem aos combatentes tombados na histórica batalha travada na região.

Mesmo ainda sem infra-estruturas de apoio, o Memorial dedicado aos heróis da Batalha do Cuito Cuanavale (BCC) já regista um movimento considerável de visitantes de vários países, atraídos por curiosidades sobre a história da batalha que libertou toda uma região, a África Austral.

São maioritariamente cidadãos dessa região e de Cuba aos quais se espera que venham juntar-se visitantes de outros quadrantes, a julgar pelo crescente reconhecimento  internacional do impacto da Batalha do Cuito Cuanavale, decorrida de 15 de Novembro de 1987 a 23 Março de 1988.

Segundo o director do Memorial da BCC,  tenente-coronel António Tchilulo Caluçhua, a estrutura recebe, em média, sete mil turistas de diversas nacionalidades, anualmente, com tendência para um aumento significativo, nos próximos anos.

Em declarações à ANGOP, por ocasião do 36.º aniversário do fim da Batalha do Cuito Cuanavale e Dia da Libertação da África Austral, assinalados em 23 de Março, o oficial precisou que,  em 2023, foram contabilizados sete mil 657 visitantes.

De Janeiro de 2024 até à primeira quinzena de Março, prosseguiu, o Memorial registou 696 visitantes de vários países, com destaque para Cuba, Namíbia, África do Sul, Botswana e Zâmbia, sem falar dos turistas nacionais.

Indicou que o maior interesse dos turistas consiste em perceber melhor os contornos da história da Batalha do Cuito Cuanavale e todo o seu acervo existente, desde antigos materiais de guerra até peças de cultura do povo Ovanganguela, bem como a beleza natural da confluência dos rio Cuito e Cuanavale.

Sobre as infra-estruturas de apoio e acolhimento de turistas, reconheceu haver “muitas debilidades”, pois que não existem, na vila, unidades de suporte como bares, restaurantes, hotéis e similares.

Assegurou, contudo, sem detalhar, que estão a ser criadas as condições para que, nos próximos anos, os turistas possam encontrar melhores opções de acolhimento e acomodação.

A este propósito, sabe-se, por exemplo, que foi já adjudicada a segunda fase de construção do Memorial, cuja conclusão vai permitir que os turistas encontrem espaços de lazer e acomodação, entre outros atractivos turísticos.

O trabalho engloba a construção de habitações modernas para a população local e casas protocolares bem como a criação de serviços e equipamentos que vão proporcionar o bem-estar da população local, como energia elétrica e água potável.

Elevação a património da humanidade

O valor turístico do Memorial vai reforçar-se mais ainda quando se concretizar a sua elevação a Património da humanidade, tal como projectado pelo Governo angolano que se stá a trabalhar no processo.

Segundo as autoridades angolanas, já foram dados “grandes passos” com vista à efectivação do projecto.

Para além das questões de infra-estruturas, o processo abarca também elementos técnicos e administrativos que estão a ser tratados com peritos da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (UNESCO).

Os peritos da UNESCO já trabalharam, no Cuito Cuanavale, na criação de condições para o efeito, e uma das condições exigidas reside na reconstituição do cenário na região, tendo em atenção como era o município antes do período da BCC.

No início deste ano, o Governo da província do Cuando Cubango realizou o primeiro Fórum dos Investidores da Região Angolana do Okavango, para propiciar condições de atracção turística, tendo em conta o potencial da região.

A região dispõe da maior bacia hidrográfica do Projecto Transfronteiriço Okavango-Zambeze, através dos rios Cuando e Cubango.

Contornos do Memorial 

Quanto ao conteúdo da informação que o Memorial oferece, o director esclareceu que o visitante toma contacto com a história da BCC, a começar pelos primeiros recuos e avanços das forças governamentais, antes da sua progressão para o epicentro da guerra e a sua desenvoltura até ao dia 23 Março, dia da batalha final e da declaração da vitória.

Na óptica de António Caluçhua, a passagem do 23 de Março de data de celebração nacional para feriado regional,  como Dia Libertação da África Austral, representa “uma visão e um ganho muito grande” que desperta curiosidade internacional.

Do conjunto escultórico estacionado na praça do Memorial da BCC, erguido numa de 3,5 hectares, destaca-se o Monumento aos Soldados, uma escultura em bronze com 21,5 metros de altura e 110 toneladas peso.

Está ilustrada com dois soldados, sendo um angolano e outro cubano, a segurarem o mapa de Angola como símbolo da defesa da integridade territorial do país e em representação da solidariedade e amizade, entre os dois povos.

Outra peça é o Monumento da Bandeira Nacional, com 55 metros de altura e mil metros quadrados de área útil, revestido de pedras graníticas e elementos de bronze.

O monumento retrata uma arma envolvida pela bandeira nacional, com um miradouro no seu “Ponto de Mira” cujo acesso principal é feito por elevador.

Do Miradouro é possível vislumbrar a plenitude da vila heróica, bem como a confluência dos rios Cuito e Cuanavale que dão nome ao município, assim como o Triângulo do Tumpo, o epicentro das operações militares.

O Memorial conta ainda com um Museu a céu aberto, a expor todo o material bélico usado durante os combates, incluindo peças de artilharia e equipamentos de aviação.

Impacto Internacional da Batalha

Entre outras consequências, a derrota do Exército sul-africano precipitou a implementação da Resolução 435 das Nações Unidas sobre a Independência da Namíbia, até então ocupada pela África do Sul, que aceitou negociar a assinatura dos Acordos de Paz de Nova Iorque, em 22 de Dezembro de 1988.

A Independência da Namíbia viria finalmente a consumar-se a 21 de Março de 1990 como corolário dos Acordos de Nova Iorque assinados pelos governos de Angola, África do Sul e Cuba, cujas tropas combateram ao lado das tropas angolanas.

O fim do regime do apartheid, na África do Sul, e a consequente libertação de Nelson Mandela depois de 27 anos prisão figuram igualmente no centro dos ganhos da BCC.

Por seu turno, Angola e Cuba, numa verdadeira saída vitoriosa do confronto militar com um dos mais poderosos exércitos do mundo, decidiram aceitar o regresso a Havana das tropas internacionalistas cubanas cuja intervenção foi determinante no desfecho da batalha que ditou a libertação da África Austral.

“O Cuito Cuanavale foi a viragem da luta de libertação do meu continente e do meu povo”, reconheceu Nelson Mandela depois de se tornar no primeiro Presidente negro da África do Sul.

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