Um milhão de raparigas fora do ensino este ano lectivo no Afeganistão
O ano lectivo no Afeganistão começou esta quarta-feira, 20 de Março, mas sem a presença de raparigas que os taliban proibiram de frequentar aulas, além do sexto ano, tornando-o no único país com restrições à educação feminina. A agência da ONU para a infância afirma que mais de um milhão de meninas são afectadas por esta proibição e estima que cinco milhões de pessoas já estavam fora da escola antes da tomada do poder pelos taliban devido à falta de instalações e outras razões.
O Ministério da Educação dos taliban marcou o início do novo ano lectivo com uma cerimónia à qual as jornalistas não foram autorizadas a assistir e durante a qual o ministro da Educação, Habibullah Agha, disse que o ministério está a tentar “aumentar tanto quanto possível a qualidade da educação das ciências religiosas e modernas”.
Os taliban têm dado prioridade ao conhecimento islâmico em detrimento de outras aprendizagens. O ministro também apelou aos estudantes para evitarem usar roupas que contrariem os princípios islâmicos e afegãos.
Os taliban já tinham anunciado que as meninas que continuassem a estudar iam contra a sua interpretação estrita da lei islâmica, ou sharia, e que eram necessárias certas condições para o seu regresso à escola. No entanto, não fizeram nenhum progresso na criação dessas condições.
Apesar de inicialmente prometer uma regra mais moderada, também proibiram as mulheres de frequentar o ensino superior, espaços públicos como parques, assim como de ter a maioria dos empregos, como parte de um grupo de medidas impostas depois de assumirem o poder, após a retirada das forças dos EUA e da NATO do país, em 2021.
A proibição da educação das raparigas continua a ser o maior obstáculo dos taliban para obterem reconhecimento como governantes legítimos do Afeganistão. Embora os rapazes afegãos tenham acesso à educação, a Human Rights Watch (HRW) criticou os taliban, afirmando que as suas políticas educativas “abusivas” prejudicam tanto os rapazes como as raparigas.
O HRW, num relatório publicado em Dezembro, afirmou que tem havido menos atenção aos profundos danos infligidos à educação dos rapazes à medida que professores qualificados — incluindo mulheres — abandonam o ensino e também devido à introdução de mudanças curriculares regressivas, apontando ainda um aumento nos castigos corporais, que fazem com que os alunos compareçam menos.