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Rapto de 66 checoslovacos pela UNITA foi há 40 anos

Faz hoje 40 anos, um grupo de 66 checoslovacos, incluindo mulheres e crianças foram raptados e forçados a caminhar 1300 quilómetros após terem sido capturados em Angola por membros da guerrilha UNITA. O cativeiro durou 469 logos dias. A história é revisitada pela Rádio Praga Internacional.

No início dos anos 80, a guerra civil eclodira no sudoeste de Angola, após o fim da guerra de independência contra Portugal. Uma luta pelo poder entre os movimentos de guerrilha anti-colonial, MPLA e UNITA, anticomunista, estava no auge.

A Guerra Civil angolana era um reflexo da Guerra Fria, com a UNITA apoiada pelos EUA, e o MPLA, marxista, apoiado pela então União Soviética, Cuba e Checoslováquia. Com apoio de soldados cubanos e o apoio soviético, o MPLA tinha conseguido vencer a fase inicial dos combates convencionais e tornar-se o governo angolano de facto. O governo da Checoslováquia tinha concordado em ajudar o Estado comunista recém-fundado, incluindo na recuperação e gestão da Empresa de Celulose e Papel de Angola em Alto Catumbela, que tinha sido abandonada depois da retirada dos portugueses.

Um grupo de 66 checoslovacos foi enviado para o Alto Catumbela para ajudar a restaurar o funcionamento da fábrica local de pasta e papel. O grupo era composto por 28 peritos, um médico, dois enfermeiros, 14 esposas e 21 filhos, três dos quais com menos de cinco anos e oito com idades compreendidas entre seis e dez. Cada família recebeu uma casa luxuosa, de acordo com os padrões locais, com piscina, médico checo e clube social.

Às 6 da manhã de 12 de Março de 1983, a cidade foi invadida por centenas de soldados da UNITA. O objectivo dos rebeldes era claro – levar os prisioneiros para a sua base militar no sudeste de Angola e receber reconhecimento internacional, negociando com o governo de Praga a libertação dos prisioneiros.

De um dia para o outro, o pequeno paraíso dos Checoslovacos transformou-se num pesadelo. Partiram para uma longa marcha de 1300 quilómetros, com as roupas que estavam a usar na altura da emboscada. Percorreram rios, mato, pântanos, enfrentaram cobras venenosas. Um dos raptados morreu durante a viagem.

Após dois meses e meio, exaustos, chegaram à base militar da Jamba, recebidos pessoalmente pelo líder da UNITA, Jonas Savimbi, vestido com uniforme de general com anéis de ouro nos dedos.

Pouco tempo, a Cruz Vermelha negociou com a UNITA a libertação de mulheres e crianças do grupo, sendo ainda soltos sete homens doentes. Permaneceram vinte homens, que foram mantidos em cativeiro na base como ‘instrumento’ de negociação. Ali ficaram 469 dias.

Após um longo período de negociações, um representante do governo checoslovaco foi a Angola receber os raptados, quando foram libertados. Assim, o movimento de insurreição da guerrilha foi de facto reconhecido pelo governo checoslovaco. A Checoslováquia teve ainda de comprometer-se a não fornecer armas ou soldados a Angola, como parte do acordo.

A guerra civil acabaria em 2002, dois meses após a morte de Jonas Savimbi pelas tropas governamentais, no Moxico.

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