
Aumenta clima de tensão no Chade pós-eleitoral
Succès Masra, antigo líder da oposição e primeiro-ministro do Chade, pediu, ontem, domingo, dia 12, ao Conselho Constitucional que anule os resultados das presidenciais de 6 de Maio, nas quais o presidente de transição obteve 61,03% dos votos.
Succès Masra, que ficou em segundo lugar, tomou a medida após dezenas de militantes do seu partido terem sido detidos e acusados de terem falsificado documentos para terem acesso ilegal à contagem dos votos.
“Com a ajuda dos nossos advogados, apresentámos hoje um pedido ao Conselho Constitucional para que seja revelada a verdade nas urnas”, anunciou Masra na rede social Facebook. “O nosso pedido é a anulação, pura e simples, desta farsa eleitoral”, disse à AFP Sitack Yombatina, vice-presidente do Partido Transformers de Masra.
“Todas as provas estão nas USB”, anexadas ao pedido apresentado ao Conselho Constitucional, que incluem imagens de vídeo de urnas a serem enchidas, roubos, ameaças, “mas acima de tudo urnas que foram levadas por militares para serem contadas noutro local”, disse Yombatina.
Na passada quinta-feira, dia 8, as autoridades eleitorais declararam vencedor das presidenciais o líder da junta, o general Mahamat Idriss Deby Itno, com 61,03% dos votos contra 18,53% de Masra.
Protestos geraram 10 mortos
Após o anúncio dos resultados provisórios das eleições presidenciais, pelo menos dez pessoas morreram e 63 ficaram feridas na capital do Chade devido a disparos do exército. Os soldados dispararam para o ar em N’Djamena e em várias cidades do sul do país conhecidas pelo apoio à oposição. Antes da divulgação dos resultados, Succès Masra já se tinha proclamado vencedor da votação. Denunciou a manipulação dos resultados e avisou que o povo “não vai permitir que isso aconteça.”
Activistas dos direitos humanos alegaram que os disparos se destinavam a dissuadir os apoiantes da oposição de se reunirem para se manifestarem. “Trata-se de uma estratégia do exército para impedir os apoiantes da oposição de se manifestarem. Especialmente porque, uma hora antes do anúncio dos resultados, o primeiro-ministro, Succès Masra, rejeitou-os e apelou aos apoiantes para se manifestarem para reclamar a sua vitória”, disse à agência EFE a defensora dos direitos humanos Sosthène Mbernodji. “Mas não é normal matar pessoas para festejar a vitória de um candidato”, denunciou ainda.
O Governo do Chade, por seu lado, prometeu esclarecer os factos. “Lamentamos estas mortes e gostaria de dizer que está a decorrer um inquérito para determinar os responsáveis. O ministro da Defesa proibiu os tiroteios. Os seus autores responderão pelos seus actos”, declarou o secretário de Estado da Justiça, Sitack Yombatina Beni.
As eleições, às quais concorreram dez candidatos, marcam o fim de uma transição de três anos desde que o general Déby Itno assumiu o poder na sequência da morte inesperada, em 2021, do pai, Idriss Déby Itno, que tinha governado o país com mão de ferro desde 1990, após a queda do ditador Hissène Habré, acusado de crimes contra a humanidade.