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Um em cada três habitantes do planeta viverá em África em 2100, refere estudo

A fertilidade está em declínio no mundo, refere um trabalho publicado na conceituada revista científica “The Lancet”. O artigo observa que mais da metade dos países apresenta uma taxa de fertilidade muito baixa e não conseguirá, nas próximas décadas, manter seu nível populacional.

O estudo baseia-se em dados do Global Burden of Disease, um programa financiado pela fundação norte-americana Bill & Melinda Gates que reúne dados de saúde da maioria dos países. Os pesquisadores também tentaram calcular a evolução das taxas de fertilidade com base em variáveis como os níveis educacionais ou a mortalidade infantil.

Segundo as estimativas, até 2050, três em cada quatro países terão uma taxa de fertilidade insuficiente para garantir a substituição demográfica. Antes do final do século, a maioria dos países enfrentará este problema.

Desequilíbrios entre regiões

Os investigadores preveem que a população de países com menores rendimentos continuará a crescer por um longo período, especialmente na África subsaariana, e que diminuirá nos países desenvolvidos. Esse desequilíbrio pode ter “consequências consideráveis nos planos económico e social”, alerta o artigo.

Entretanto, especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) ressaltaram, na mesma edição da revista, que é preciso cautela em relação às previsões feitas por este estudo, e criticam várias decisões metodológicas, especialmente a pouca confiabilidade dos dados disponíveis em alguns países de menores rendimentos.

Os pesquisadores da OMS referem que o fenómeno tem aspectos positivos (ambientais ou alimentares), mas também negativos, em especial quanto aos sistemas de aposentadoria ou o emprego.

Natalidade com tendência a desacelerar

O demógrafo francês Gilles Pison, professor emérito do Museu de História Natural, em Paris, e autor de ‘Atlas de la Population Mondiale’ (Atlas da população mundial, em português), dedicou a carreira a estudar a evolução da natalidade no mundo.

Em entrevista à RFI, ressalta que a diminuição do número de filhos é uma decisão das mulheres e dos casais, observada há mais de 200 anos – primeiro nos países desenvolvidos da Europa e da América do Norte, e nos últimos 50 anos, também na América Latina e Ásia, numa velocidade mais rápida do que o previsto. O fenómeno já começou na África, mas em um ritmo muito lento.

“Em todo o planeta, as mulheres desejam ter menos filhos para poder assegurar-lhes uma vida longa e de qualidade. Sabem que se continuassem a ter muitos filhos, não irão conseguir dar-lhes uma vida minimamente decente”, afirma. “Estamos a aproximarmo-nos do crescimento demográfico nulo”, salienta.

As últimas projecções das Nações Unidas sobre as populações, publicadas há cerca de dois anos, a ONU prevê que o planeta terá 10 mil milhões de humanos em 2080. A partir de então, a tendência é para haver uma estabilidade populacional ou até uma ligeira queda.

“A repartição dos humanos no planeta será diferente. A população vai aumentar bastante em África: hoje, com 1,5 mil milhões de habitantes, o continente africano é casa de 1 em cada 6 humanos da Terra. Em 2050, serão 2,5 mil milhões e, até o fim do século, 1 em cada 3 seres humanos viverá em

África”, acrescenta Pison. “O continente vai tomar um espaço cada vez mais importante no mundo, tanto demográfica como economicamente.”

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