Estamos juntos

Isabel II: opiniões sobre o legado da monarca dividem-se em África

Em África, as opiniões acerca do longo reinado da monarca do Reino Unido, Isabel II, estão longe de serem consensuais.

Um dos primeiros sinais surgiu na conta de Twitter do professor nigeriano Uju Anya que, reagindo às notícias que devam canto da deterioração do estado de saúde do monarca, desejava que a sua dor “fosse excruciante”.

O comentário foi rapidamente apagado pela própria empresa que explicou que o mesmo violava as suas regras, negando, assim, os princípios da liberdade de expressão que supostamente diz defender. A Carnegie Mellon University, onde o professor ensina linguística, disse que as suas opiniões “ofensivas e censuráveis” não reflectiam os valores da instituição.

Lembre-se que Isabel II reinou os últimos 16 anos de domínio britânico forçado em África. Nas décadas seguintes, já depois da maioria dos países terem alcançado a independência, foi feito um enorme esforço para ultrapassar a história incómoda do colonialismo através da ajuda e de financiamentos a programas de desenvolvimento com vista a criar um futuro cordial baseado na cooperação e não no controlo. As condolências oficiais – do presidente do Gana, do novo presidente do Quénia, e do chefe de estado nigeriano transmitiram esse sentimento.

Mas para Anya é surpreendente que se honre uma pessoa “que supervisionou um governo que patrocinou o genocídio que massacrou e deslocou metade da minha família”.

Após a sua primeira visita ao Quénia, em Fevereiro de 1952, como herdeira do trono britânico, Isabel II tornou-se uma convidada frequente do continente. A última das suas cerca de duas dúzias de viagens foi em 2007 ao Uganda para a 20ª Reunião de Chefes de Governo da Commonwealth. “Penso ter visto mais de África do que muita gente”, disse ela, nesta última visita.

Para África, Isabel II levou a pompa da monarquia britânica onde quer que passasse, suscitando um misto de espanto e admiração dos Chefes de Estado africanos (ditadores ou democratas) diante de uma instituição com mais de 1000 anos. Os habitantes locais pareciam frequentemente hipnotizados pela sua grandeza.

Num vídeo, que se tornou viral nos últimos dias, vê-se uma mulher idosa descrevendo a angústia de uma revolução queniana brutalmente esmagada por soldados britânicos no primeiro ano de reinado da Isabel II. “Que Isabel traga o que me pertence”, disse ela. O vídeo apareceu pela primeira vez em Junho, quando a Rainha celebrou o seu Jubileu de Platina.

Sabe-se que os mortos não pagam dívidas. No entanto, sendo o novo monarca Carlos III filho da Isabel II, para muitos africanos continua a ser legítimo perguntar: O que deve a Grã-Bretanha a África e quando pagará a sua totalidade?

 

 

Notícias relacionadas
Comentários
Loading...