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Luanda: A frenética capital faz anos

Com uma população a ultrapassar os nove milhões de habitantes, a província de Luanda assume o protagonismo da vida nacional. Hoje faz 447 anos e está mais viva que nunca.

Quando a armada portuguesa do capitão Paulo Dias Novais ancorou na ilha de Luanda, em Fevereiro 1575, já por ali encontrou pequenos povoados onde súbditos do reino de Ndongo, vassalo do Rei do Kongo, administravam um posto tributário. Na baía em frente, os recém-chegados encontraram as condições ideais para instalarem um núcleo permanente e, um ano mais tarde, no dia 25 de Janeiro de 1576, o capitão português fundou, formalmente, a cidade São Paulo da Assunção de Loanda, em cujo nome se cruzavam o nome do Santo católico e o termo “Loanda”, ou “Luwanda”, que em Kimbundo, significa “tributo”.

Soldados, mercadores e religiosos europeus formavam a população daquela primeira colónia que atraiu para as suas imediações populações indígenas que por ali se foram estabelecendo, ao mesmo tempo que, por mar, chegavam aventureiros de outras paragens em busca de uma vida nova. Foi desta mistura de gentes que se formou uma cidade que conseguiu ultrapassar todas as dificuldades, da falta de água potável das primeiras décadas às batalhas entre portugueses e holandeses pelo seu domínio, crescendo muito para lá dos seus limites iniciais e chegando a receber, em 1872, o apelido de “Paris da África” e que em meados do século XX era considerada uma das cidades mais avançadas e cosmopolitas do continente. Nas últimas décadas, a capital reinventou-se, procurando oferecer novas e sempre surpreendentes atracções aos seus habitantes e aos que a visitam.

Pela sua localização, Luanda transformou-se num ponto de passagem para muitos dos que viajam de outros pontos de África para a Europa e para as Américas por via aérea, posição que será reforçada com a inauguração do novo aeroporto internacional de Luanda, com uma capacidade anunciada de 15 milhões de passageiros por ano. Quem aqui faz escala irá descobrir uma cidade que se modernizou.

Uma megacidade repleta de vida
É forte o impacto que Luanda provoca em quem a visita. “Casa” de mais de nove milhões de habitantes, de acordo com as estimativas de 2022 do INE, é uma megacidade onde os contrastes não deixam ninguém indiferente. As ruas sempre repletas de gente que ao longo do dia se ocupam dos mais diversos ofícios entre as fachadas dos modernos arranha-céus e os jardins floridos fronteiros às antigas vivendas térreas que convivem pacificamente entre si e com os inúmeros exemplares do estilo arquitectónico que ficou conhecido como o “Moderno Tropical”, que adaptava os edifícios ao clima africano.

São muitos ainda os exemplares desta arquitectura inovadora que se conservam e que podemos admirar por toda a cidade, enquanto um passeio pela Baixa nos transporta no tempo, levando-nos a recuar séculos até aos tempos em que os típicos sobrados dominavam a capital, numa demonstração do poder económico proporcionado pelo comércio de escravos. A Avenida Marginal é um exemplo flagrante deste convívio entre estilos, com o novíssimo Museu da Moeda a contrastar com o clássico Banco Nacional, mesmo ao seu lado. Uma das mais antigas artérias da cidade, esta avenida revela ainda duas das suas mais antigas igrejas, as dos Remédios e da Nossa Senhora da Nazaré, e que merecem uma visita, sobretudo à hora dos serviços religiosos, quando se enchem com os cânticos e se animam com os padrões africanos dos trajes das devotas.

Renovada desde 2012, depois de obras de alargamento, a Marginal de Luanda, que já foi eleita para fazer parte do Clube das Mais Belas Baías do Mundo, transformou-se num dos espaços mais frequentados da cidade. Ao longo do dia, ali acontece de tudo, com o desfile de quem caminha ou corre com vista privilegiada para a Ilha do Cabo, do outro lado do mar, a animação proporcionada pelas “escolas” improvisadas de dança ou capoeira, pelas concorridas aulas de ginástica ou pelos jogos de basquete, sem esquecer as partidas de críquete ao fim-de-semana. Ao final de cada tarde, as esplanadas convidam à conversa descontraída, acompanhada por um sumo natural, uma cerveja fresca ou um gelado, enquanto se contemplam as cores únicas do pôr-do-sol. É também na Marginal que têm regularmente lugar festivais de música e não só, já que está preparada para receber eventos especiais.

Oferta cultural
Luanda fervilha constantemente de uma vida cultural que oferece alternativas para todos os gostos. Concertos de música clássica, tradicional, jazz ou com os nomes que emergem na cena popular angolana, exposições de arte, tertúlias, lançamentos de obras literárias, espectáculos de teatro ou de dança… basta procurar um pouco para encontrar o programa ideal para passar algumas horas de lazer e conhecer melhor as mais variadas expressões artísticas do país e do continente.

Espaços como o Memorial Dr. Agostinho Neto, o mausoléu do primeiro Presidente da República, merece, por si só, uma visita, tal como o Teatro Elinga, que ocupa um velho edifício de sobrado na Baixa, ou o Palácio do Ferro, do gabinete de Gustave Eiffel, recebem regularmente eventos culturais, como os que também acontecem no Espaço Verde Caxinde, da associação Chá de Caxinde, no ELA – Espaço Luanda Arte, na Casa das Artes, em Talatona, a Galeria Tamar Golan, da Fundação Arte e Cultura, ou nas salas de instituições internacionais, como o Centro Cultural Português do Instituto Camões ou o Centro Cultural Brasil Angola.
Por toda a cidade, muitos são os cenários onde se promove o trabalho de artistas nacionais e estrangeiros, numa agenda sempre cheia de compromissos.

Turismo cá dentro
Mas a capital é também um destino de praia, com os areais da ilha do Cabo a convidarem a banhos de sol e os mares calmos a desafiarem a um mergulho, para depois recuperarmos a energia num dos muitos restaurantes em frente ao mar onde o ambiente informal contrasta com as elaboradas ementas que juntam pratos da gastronomia nacional e internacional. Aliás, a restauração é um dos grandes argumentos de Luanda para conquistar quem a vem conhecer. Dos “quintais” da Chicala, onde podemos comer o tradicional Mufete, com o peixe acabado de pescar ao largo da Ilha, aos mais sofisticados restaurantes que adaptam os ingredientes tradicionais a pratos inovadores.

Os amantes de desporto também têm bastante por onde escolher na capital angolana. Além dos calçadões da Marginal e da Ilha para correr ou caminhar, e das praias para nadar e praticar desportos náuticos, como pesca submarina, skimming, sky surf, remo ou vela, a cidade dispõe de ginásios, campos de ténis e de padel – o desporto da moda – e, nas suas proximidades, de vários campos de golfe.

Para que a “experiência Luanda” fique completa, não podem faltar os passeios pelas feiras de artesanato em busca de recordações. No calçadão da Ilha, a feira de artesanato urbano realiza-se no primeiro Sábado de cada mês, e lá encontramos as mais variadas peças inspiradas nos tradicionais materiais dos artesãos mas como novas e irreverentes interpretações, dos vestidos africanos às simpáticas bonecas de pano, passando por malas e acessórios ou mesmo peças de mobiliário. A alguns quilómetros do centro da cidade, perto do Museu da Escravatura, no Mercado de Arte Africana encontramos peças únicas do artesanato tradicional, vindas de todas as províncias do país, cobiçadas por coleccionadores e que resultam numa excelente memória de um destino onde queremos sempre voltar.

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