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Imagem do palestiniano Mohammed Salem vence prémio World Press Photo 2024

O fotojornalista palestiniano Mohammed Salem, da agência de notícias Reuters, é o autor da Fotografia do Ano da World Press Photo 2024 com um testemunho dos estilhaços da guerra no Médio Oriente, anunciou a organização na manhã de hoje, quinta-feira, dia 18.

‘Mulher Palestiniana Abraça o Cadáver da Sua Sobrinha’ é o título da imagem vencedora. É uma fotografia pungente que, evocando a pintura renascentista, conta uma história dos últimos meses — Inas Abu Maamar dá colo ao corpo da sobrinha de cinco anos, Saly, que morreu junto à sua mãe e à sua irmã quando um míssil israelita atingiu a casa onde moravam em Khan Younis, na Faixa de Gaza. É a segunda vez que Salem recebe o prémio máximo da World Press Photo, e com a mesma temática.

Dois dias antes, a mulher de Mohammed Salem dera à luz o primeiro filho do casal. Para o fotógrafo, a imagem que agora conquistou o reconhecimento de um dos mais importantes e mediáticos prémios de fotografia do mundo é “um momento poderoso e triste que resume o sentimento mais amplo do que estava a acontecer na Faixa de Gaza”. Para o júri, citado no comunicado de imprensa que acompanha o palmarés, é a composição da imagem, “cuidadosa e respeitosa”, protegendo o rosto da tia enlutada, que justifica em parte o prémio. Concentra, num “vislumbre literal e metafórico”, a dimensão “inimaginável” da perda.

Segundo a própria agência noticiosa que publicou a imagem agora premiada, ‘Mulher Palestiniana Abraça o Cadáver da Sua Sobrinha’ evoca o carácter dolorosamente intemporal da fotografia. “É uma imagem com eco, tão antiga quanto a história humana.” Foi captada na morgue do hospital Nasser a 17 de Outubro, entre várias pessoas que procuravam os seus parentes desaparecidos. Noutra fotografia da mesma série, é possível ver o rosto de Inas Abu Maamar. “As pessoas estavam confusas, a correr de um lado para o outro, ansiosas por saber do destino dos seus entes queridos, e esta mulher chamou-me a atenção quando abraçava o corpo da menina e se recusava a largá-la.”

No site da Reuters há também imagens de Saly, ainda viva, numa típica fotografia de smarthphone de uma criança a fazer o “V” com os dedos de uma mão — o símbolo da vitória, mas também, há décadas, um símbolo de paz.

Foram submetidas ao concurso deste ano 61.062 imagens de 3851 fotógrafos de 130 países. O processo foi o costumeiro: um júri regional por cada zona do planeta (seis) e depois um júri global para decidir a partir dos finalistas de cada região. Os prémios regionais foram anunciados a 3 de Abril.

A presidente do júri dos prémios globais, Fiona Shields, editora de fotografia do diário britânico ‘The Guardian’, destaca o poder de todas as imagens premiadas de “transmitir um momento específico que ao mesmo tempo vai para além do seu tema e do seu tempo”. Frisando também o risco que correm os fotojornalistas em todo o mundo, explicou que este ano a World Press Photo quis garantir que esses actos de coragem e profissionalismo são aplaudidos.

Há 24 vencedores regionais e seis menções honrosas. No total, saíram premiados desta edição 33 fotógrafos, por 32 projectos. Uma nota muito de 2024: “A World Press Photo proíbe o uso de imagens [geradas por] Inteligência Artificial.”

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