África do Sul e Togo valem 3/4 das trocas comerciais com o continente
Ao todo, as trocas comerciais com África somam 994 milhões de dólares, com Angola a vender mercadoria diversa no valor de 312 milhões de dólares. No sentido inverso, as compras correspondem a 682 milhões de dólares. Ou seja, a balança comercial do País com África teve um saldo negativo no I semestre de 370 milhões de dólares.
De acordo com o semanário Expansão, no I semestre do ano, as trocas comerciais entre Angola e os países africanos representaram apenas 4%. No total, entre importações e exportações foram movimentados 544 mil milhões Kz em mercadorias diversas a países africanos, de um total de 13,6 biliões Kz das suas trocas comerciais em todo o mundo, segundo a folha de estatísticas do comércio externo do II trimestre, divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Ainda assim, o valor registado nas trocas comerciais com África teve um aumento de quase 1%, face ao mesmo período de 2021, em que valeram 456 mil milhões Kz.
A África do Sul e o Togo foram responsáveis por 3/4 das trocas comerciais nos primeiros seis meses de 2023, o que faz destes países os principais parceiros comerciais de Angola no nosso continente.
Para a África do Sul, exportámos 97,4 mil milhões Kz em mercadorias e importámos 133,8 mil milhões Kz. Para o Togo, exportámos apenas 13,4 mil milhões Kz e importámos quase 159,0 mil milhões Kz.
No período em análise, a África do Sul foi o principal destino de exportação no continente com 28,8%, seguido da República Democrática do Congo com 22,9%,Togo com 21,0%, Namíbia com 9,1% e Gana com 5,7%. Já a nível das importações, Angola comprou mais ao Togo com 59,1%, África do Sul com 25,8%, Namíbia com 4,2%, Gana com 2,1% e Argélia com 1,7%, mantendo a tendência nas trocas comerciais com o resto do mundo.
Entre os principais produtos de exportação, destacam-se combustíveis minerais, pedras e metais preciosos e bijuterias. Quanto às importações, destacam-se os produtos alimentares, máquinas e aparelhos, combustíveis e minerais, veículos e outros meios de transporte.
Especialistas entendem que o País tem de aumentar a produção de bens correntes para melhorar o rácio das exportações no continente. “Para que Angola possa aumentar as exportações para o continente precisa aumentar a sua produção de bens de consumo corrente e no âmbito da Zona de Comércio Livre assegurar que os produtos feitos em Angola cumpram com os requisitos de origem”, defendeu o coordenador do Centro de Investigação Social e Económica, da Faculdade de Economia da Universidade Agostinho, Fernandes Wanda.
A outra aposta deve passar pela industrialização com foco na produção interna. “Angola deve levar também avante um rápido processo de industrialização com foco na produção de bens de consumo corrente. A indústria de empacotamento, apesar de permitir que o País comece a criar o que chamamos uma mão-de-obra industrial, falha na regra de origem”, concluiu o docente universitário.
Uma vez que o principal produto vendido por Angola continua a ser o petróleo e a maior parte das importações são de alimentos, é preciso adoptar medidas de apoio financeiro para incentivar a produção e exportação, considera o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA).
“Nos outros países, os bancos financiam as exportações, aqui não. Os nossos bancos não dão crédito ao exportador como acontece, por exemplo, na África do Sul”, disse José Severino.
Severino entende também que, estando o País inserido na Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA), que vai ganhando espaço, é preciso apostar na industrialização, para acrescentar valor ao que é produzido em Angola.
“A nossa dependência de matérias-primas não ajuda. Somos um país importador de bens acabados e de matérias-primas para bens, assim dificilmente seremos competitivos”, disse.
A acrescer ao facto de a indústria estar “agarrada” à importação de matérias-primas, há ainda a questão da elevada taxa de juro, que também impacta negativamente na relação comercial com África. “Temos uma taxa de juro colada à taxa de inflação. Quem trabalha com capitais próprios vai sobrevivendo, mas no comércio internacional não temos hipóteses. Existem muitas barreiras”, defendeu o líder da AIA.
Ainda assim José Severino considera que os 5% das trocas comerciais entre Angola e os países africanos registados no I semestre podem não ser reais, devido à informalidade nas zonas fronteiriças.