Estamos juntos

África com um pezinho no espaço

A semana passada a África foi notícia por uma razão particularmente invulgar: o Quénia concebeu, desenvolveu e lançou o primeiro satélite de observação da Terra.

Com o nome Taifa-1 – palavra Suaíli, que em português quer dizer “Nação” – o satélite foi lançado em órbita por um foguetão da SpaceX, nos EUA, no passado dia 15 de Abril. O grande objectivo do lançamento é o fornecimento de dados nas áreas da agricultura e da monitorização ambiental no Quénia, que serão valiosos para o futuro do país, actualmente a atravessar uma seca.

Os satélites africanos têm sido enviados para o espaço a partir de plataformas de lançamento de foguetões localizadas fora do continente, sobretudo no Cazaquistão, Guiana ou do estado norte-americano da Califórnia.

Escassez de meios

Como não existem estações espaciais, nem capacidades técnicas em África, as empresas africanas precisam de comprar uma grande parte dos serviços necessários a um preço elevado. Além disso, várias tentativas de criação de portos espaciais no continente não foram bem sucedidas. Mas a construção da primeira estação deverá iniciar-se em breve em Djibuti, na zona do chamado Corno de África.

“Sabemos que o lançamento de satélites tinha de ser feito externamente, porque a África simplesmente não tinha os recursos e capacidades para o fazer. É por isso que a maioria dos projetos espaciais africanos tem de fazer colaboração internacional, externalizando [uma parte principal dos projetos]”, comenta a sul-africana Rorisang Moyo que é analista de mercado e especialista na indústria espacial.

A indústria espacial africana foi avaliada em cerca de 20 mil milhões de dólares norte-americanos em 2021. Espera-se que este valor aumente para 23 mil milhões até 2026.

Angola na vanguarda

Também em Angola a indústria espacial está a pleno gás. “O país pretende ser autossuficiente em questões de comunicação espacial. (…) Isto reflete-se em alguns projetos. Existe uma comunidade da SADEC da África Austral para a partilha de satélites, onde Angola tem o seu próprio grupo de peritos”, partilha Rorisang Moyo.

Em outubro do ano passado, o segundo satélite angolano, o Angosat-2, foi colocado no espaço. Com duas toneladas, tem uma capacidade de transmissão de informação extremamente elevada.

O satélite custou 320 milhões de dólares, foi construído na Rússia e enviado para o espaço a partir da base de lançamento de foguetões de Baikonur, no Cazaquistão. O seu sinal cobre a maior parte do continente africano e uma grande parte do sul da Europa.

O Governo angolano prometeu que isto colocaria o país na linha da frente das comunicações em África, disse o ministro das Telecomunicações, Mário Oliveira, por ocasião do lançamento do satélite.

“Gostaria de dizer aos angolanos, que entrámos na era do espaço com este satélite… A equipa angolana, juntamente com os nossos colegas russos, tem trabalhado arduamente para isso. Felicitamos Angola e todos os angolanos por este sucesso”, frisou.

Mas este avanço da indústria espacial é notado em toda a África. Além do Quénia, Djibuti e Angola, também África do Sul e Nigéria prometem contribuir.

Um ponto forte: há muitos jovens investigadores. Os actores africanos estão cada vez mais ligados em rede e trabalham em conjunto. Cooperam com norte-americanos, bem como com europeus, russos ou chineses.

Notícias relacionadas
Comentários
Loading...