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A imagem de Angola e os trabalhos de casa – Jornal de Negócios

O prestígio internacional de João Lourenço está em alta e a aproximação da Administração Biden aos países subsarianos coloca Angola numa posição crescentemente relevante do ponto de vista regional. A cereja no topo do bolo seria uma visita do Presidente norte-americano ao país, escreve hoje o jornalista Celso Filipe, subdirector do jornal português Negócios e especialista em temas africanos.

No plano externo a reputação do governo de João Lourenço está em crescendo e a hipótese de Joe Biden visitar o país constitui a atribuição de uma medalha por antecipação. Falta que os angolanos retirem benefícios desta conjuntura positiva.

A possibilidade do presidente Joe Biden visitar Angola no próximo ano, no âmbito de um périplo pela África subsariana, vai alimentar especulações durante algum tempo e determinar até a avaliação do mandato de João Lourenço (JLo).

A mera admissão desta hipótese constitui, no imediato, uma vitória para a diplomacia angolana e um aval às reformas implementadas por JLo, restringindo o espaço de manobra dos seus críticos.

Com uma África do Sul em convulsão e marcada por sinais evidentes de má governação, Angola sobe degraus na escada de relevância regional. Isso mesmo foi salientado pelo secretário de Defesa norte-americano, Austin Lloyd, em reação ao facto de o seu país está a analisar um pedido de Angola para compra de material militar aos Estados Unidos.

“O departamento de Defesa valoriza muito a nossa crescente parceria com Angola”e o papel do país como “líder-chave” na garantia da paz e segurança no continente africano. Também o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, elogiou a governação de João Lourenço e o papel de Angola na mediação e conversações de paz sobre o conflito no leste da República Democrática do Congo.

Neste pingue-pongue de salamaleques, João Lourenço escancarou as portas ao investimento do outro lado Atlântico, no decurso da cimeira EUA-África que decorreu a semana passada em Washington. “Os investidores norte-americanos virão sobretudo a Angola para investir em todos os campos do seu interesse sem qualquer exceção, não apenas no setor energético, não apenas na exploração de recursos minerais de todo o tipo, incluindo diamantes e outros, que são minerais preciosos, terras raras. Em todas essas áreas, o investimento dos EUA é, na sua maioria, bem-vindo. Isto inclui também as telecomunicações, TIC, 5G. Esperamos que as empresas americanas possam ter em conta o 5G em Angola, o que é importante para o nosso desenvolvimento”, disse o líder angolano citado pela Voz da América.

E para que não restassem dúvidas de que as relações estão mesmo a entrar num novo capítulo, João Lourenço sublinhou essa mudança. “Tendo em conta o histórico das relações Angola – Estados Unidos está a haver uma viragem nessas relações”.

A aproximação aos EUA e as boas avaliações do FMI dão prestígio externo que João Lourenço precisa de repercutir internamente, na medida em que a população angolana ainda está longe de sentir, ao nível dos seus rendimentos e oportunidades de trabalho, os impactos positivos desse ganho de credibilidade.

Ou seja, de pouco serve uma boa imagem externa e os estímulos à boa governação, caso os mesmos se revelem inócuos do ponto de vista da melhoria das condições de vida dos angolanos.

Este novo posicionamento, por oposição, significa um afastamento da Rússia, mas não da China. Neste último caso trata-se, sobretudo, de reduzir a dependência face a Pequim, captando investimento de maior qualidade, mas também mais exigente no plano das boas práticas, tanto governamentais como empresariais.

Uma guerra fria com novos pontos quentes

Indo além de Angola, a eventual deslocação de Joe Biden ao continente africano, independentemente dos países que visitar, constituirá uma mudança substantiva na política externa norte-americana. O último presidente dos Estados Unidos a viajar até África foi Barack Obama, em 2015, e mesmo esta movimentação diplomática teve uma importante dose sentimental, dado que um dos dois países visitados, o Quénia, era a terra natal do seu pai. O outro foi a Etiópia.

Nesta medida, a promessa do atual inquilino da Casa Branca, constitui uma alteração substantiva na abordagem a África, colocando o continente como peça relevante numa nova ordem mundial com algumas semelhanças à da guerra fria, mas igualmente com diferenças, sendo que uma delas é a de que já não existem com a mesma intensidade e influência conflitos armados naquele continente.

África é ainda um continente com um enorme potencial de crescimento económico e, nesta medida, um contraponto à Ásia.

Um ponto que foi enfatizado pelo presidente da Organização de Unidade Africana, em setembro, durante um discurso na ONU. “Não queremos ser o terreno fértil de uma nova Guerra Fria, mas sim um polo de estabilidade e oportunidade aberto a todos os seus parceiros, numa base mutuamente benéfica”, declarou Ma cky Sall.

 

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