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Rei britânico reconhece erros do passado, mas não pede formalmente desculpa ao Quénia

O Rei Carlos III do Reino Unido condenou esta terça-feira, dia 31, em Nairobi, capital do Quénia, os “abomináveis e injustificáveis actos de violência” que o seu país cometeu durante a época colonial contra os quenianos que lutaram pela independência obtida em 1963.

“Temos de reconhecer os momentos mais dolorosos da nossa longa e complexa relação”, disse o monarca num discurso proferido durante um banquete oficial na State House oferecido pelo Presidente queniano, William Ruto, no primeiro dia da sua visita de Estado à antiga colónia britânica, que se prolonga até à próxima sexta-feira.

Carlos III não chegou a pedir desculpa por estas ofensas históricas, mas sublinhou que “os erros do passado são, naturalmente, motivo de grande tristeza e pesar.” E acrescentou: “Ao regressar ao Quénia”, continuou, “o mais importante para mim é aprofundar a minha própria compreensão destes males e conhecer algumas das pessoas cujas vidas e comunidades foram tão severamente afectadas“. “Nada disto pode mudar o passado, mas se abordarmos a nossa história com honestidade e abertura, talvez possamos demonstrar a força da nossa amizade atual”, concluiu.

Por seu turno, o Presidente queniano agradeceu a “vontade de reconhecer os aspectos dolorosos da (…) história comum” dos dois países, lembrando que “se o colonialismo foi brutal e atroz para o povo africano, a reacção colonial às lutas africanas pela soberania e pelo autogoverno foi monstruosa na sua crueldade.” Essa crueldade, sublinhou, culminou no chamado Estado de Emergência (1952-1960), declarado face à luta travada pela organização guerrilheira popularmente conhecida como Mau-Mau, durante a qual morreram pelo menos dezenas de milhares de quenianos, se bem que não existam números definitivos.

Antes da visita de Estado do monarca ao Quénia, a primeira a um país da Commonwealth desde o início do seu reinado, especulou-se sobre um pedido de desculpas simbólico que acabou por não acontecer.

Há uma década, o governo britânico expressou o seu “pesar por estes abusos terem ocorrido” e anunciou o pagamento de quase 20 milhões de libras a mais de 5.000 pessoas, naquilo a que chamou um “processo de reconciliação”.

De acordo com a lei britânica, os monarcas têm de se pronunciar sob conselho dos ministros e o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, já rejeitou os apelos de um pedido de desculpas sobre a questão da escravatura.

Embora haja receios de que um pedido de desculpas possa ser interpretado como uma admissão de responsabilidade e dar origem a acções judiciais, os sobreviventes quenianos dos excessos do governo colonial argumentam que isso ajudaria a curar e a encerrar o assunto.

Uma parte do discurso do Rei foi proferida em suaíli, tendo saudado as ligações entre os países e recordado o afecto que a sua falecida mãe sentia pelo povo queniano.

Neste primeiro dia da visita de Estado, o Rei Carlos teve uma reunião com o Presidente Ruto, visitou uma quinta e encontrou-se com jovens empresários quenianos do sector da tecnologia. Visitou também um museu dedicado à história do Quénia e à sua batalha pela independência.

A família real, sobretudo nas visitas aos países da Commonwealth, tem sido cada vez mais questionada sobre os legados do colonialismo e da escravatura, com pedidos de desculpas e reparações.

No início deste ano, o Palácio de Buckingham afirmou que estava a apoiar uma investigação histórica independente para examinar as ligações da realeza ao comércio de escravos.

Mas uma investigação recentemente publicada revelou um quadro complexo das atitudes reais em relação à escravatura, com a família real do início do século XIX dividida quanto à abolição da escravatura. O futuro Guilherme IV era um forte defensor da escravatura, enquanto o seu primo, o Duque de Gloucester, era um dos principais líderes da campanha pela abolição.

Nos próximos dias, a visita de Estado ao Quénia centrar-se-á nas formas como a Grã-Bretanha e o Quénia estão a trabalhar em conjunto, nomeadamente no combate às alterações climáticas e na promoção de oportunidades e emprego para os jovens.

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