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Produção industrial em terreno positivo, mas petróleo em queda

Depois de dois trimestres em terreno negativo, a actividade industrial voltou a subir entre Julho e Setembro de 2023. Mas as dificuldades de acesso a divisas que se tem verificado desde o III trimestre deverá penalizar a indústria transformadora nos próximos meses.

De acordo com o Jornal Expansão, a actividade industrial em Angola regressou a terreno positivo, depois de seis meses consecutivos no negativo, atingindo um crescimento de 0,1% no III trimestre de 2023, influenciada pela subida da produção nas indústrias transformadoras e da produção e distribuição de electricidade, gás e vapor.

Contas feitas, com base nos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), referentes ao III trimestre de 2023, o crescimento da produção dos restantes sectores conseguiu atenuar o impacto da queda homóloga de 2,5% da extracção de petróleo.

Especialistas apontam que o mau desempenho da produção industrial em Angola continua a ser penalizada pelo fraco desempenho da produção petrolífera, já que esta vale 85,3% do Índice de Produção Industrial medido pelo INE. Ainda dentro das indústrias extractivas, cuja produção total caiu 2,0% em termos homólogas, encontra-se a extracção de diamantes, que ao contrário dos petróleos, viu a sua produção crescer, mais concretamente 15,4%. Mas como vale apenas 1,9% do indicador, esse crescimento foi insuficiente para inverter a tendência de queda das indústrias extractivas.

O índice avalia a variação da produção industrial de quatro sectores, nomeadamente as indústrias extractivas, as transformadoras, a distribuição de electricidade e a captação e distribuição de água.

Se por um lado está a queda da produção de petróleo, por outra está o crescimento da produção nas indústrias transformadoras, que valem 10,1% de todo o indicador. No III trimestre do ano passado, a produção destas indústrias cresceu 4,5% em termos homólogos, com as indústrias alimentares, das bebidas e tabaco a liderarem esses ganhos, com um crescimento de 6,0%, bem como a fabricação de produtos petrolíferos, químicos e outros, que cresceu 5,6%, e a fabricação de têxteis, vestuários e calçados, cuja produção subiu 6,3%.

Por outro lado, a empurrar a produção das indústrias transformadoras para baixo estiveram as indústrias metalúrgicas, que no III trimestre viram a produção cair 1,9%. A queda que se registou é atribuída à falta de matérias-primas e às frequentes avarias mecânicas nos equipamentos. Além disso, a indústria tem também muitas dificuldades de acesso a financiamentos, a falta de mão-de-obra especializada nacional e a falta de electricidade e água em algumas unidades, obrigando-as muitas vezes a recorrer as fontes alternativas para o exercício da sua actividade, o que encarece a produção.

Este cenário de quase estagnação da produção industrial angolana aconteceu no trimestre imediatamente a seguir à forte desvalorização (39%) do kwanza face ao dólar (entre Maio e Junho). Como consequência, no III trimestre começaram-se a verificar atrasos nas transferências e pagamentos ao estrangeiro devido à escassez de divisas na economia. Uma escassez que não resultou tanto da quebra das receitas fiscais petrolíferas, mas sim pelo facto de o Governo ter aumentado o fluxo de pagamentos de dívida ao estrangeiro, “retirando” o Tesouro do mercado cambial. Com menos divisas disponíveis o kwanza desvalorizou e os empresários viram aumentar as dificuldades na importação de matérias-primas, num cenário que também aconteceu no IV trimestre.

“Estamos reféns da produção petrolífera, porque é através desta actividade que o País tem receitas fiscais em moeda estrangeira que muitas vezes fazem falta aos nossos empresários que dependem das importações para abastecerem as suas unidades fabris”, disse o economista José Lopes.

Já o investigador económico Fernandes Wanda, disse há uns meses ao Expansão o fraco desempenho da produção industrial angolana “está ligada à dependência da produção e exportação de petróleo.” E alertava Lembrou que vinham ai tempos difíceis não só para as famílias mas também para a indústria nacional, sobretudo a que depende de importações de bens de capital e de consumo intermédio.

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