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Negócio lucrativo é pesadelo para a saúde pública

O negócio gera milhares de milhões de kwanzas mas não tem qualquer controlo. Há sempre um para cada queixa dos clientes, mas são os afrodisíacos que mais lucros trazem aos vendedores. Os especialistas dizem que se trata de um atentado à Saúde publica e o Ministério da Saúde confirma que está a preparar legislação específica.

Os medicamentos naturais que são comercializados nas ruas e mercados informais, sem qualquer certificação nem reconhecimento dos próprios vendedores, são impróprios para o consumo e constituem um atentado à saúde pública, dizem especialistas citados pelo jornal Expansão.

O Hospital Josina Machel confirma que recebe quase todos os dias casos de intoxicação por causa destes medicamentos comprados nas ruas e no mercado informal. “Muitas vezes chegam aqui num estado extremamente complicado onde precisamos desintoxicar o paciente e depois começar com a medicação convencional. Infelizmente, neste processo muitos acabam por perder a vida, porque já chegam ao hospital em fase terminal”, referiu fonte oficial do maior hospital de referência de Luanda.

Na capital estes medicamentos chegam às mãos dos consumidores, nos bairros e no centro da cidade, através das quitandeiras e zungueiras que os carregam numa banheira à cabeça. Além de venderem elas também fazem papel de médicos, dando instruções ao cliente de como e quando deve usar a “medicação”. Basta que este diga qual é a dor que sente, para se apresentar um que vai resolver a situação.

Entre os medicamentos mais procurados estão o Pau de Cabinda, o Zola Miongo, que segundo os terapeutas informais serve como estimulante sexual, Catamba, Raíz de Mundondo e o Tronco de Lolo, quase todos afrodisíacos mas que de acordo com as vendedoras também combatem outras doenças como problemas de rins, infecção urinária, hemorróidas, e mais tudo o que se queira.

A maior parte das ervas e raízes são vendidas já preparadas em garrafas de água ou gasosa de meio litro, pronto a tomar, sem que se conheça a composição correcta. Cada garrafa custa entre 300 e 500 Kz. Curiosamente, a mesma dose que é vendida na rua sem qualquer supervisão pode custar entre 12 a 20 mil Kz numa das ervanárias da cidade de Luanda devidamente autorizadas.

No mercado informal os preços dos medicamentos variam de 100 Kz a 2.000 mil Kz, acessíveis a todos os bolsos, dependendo da patologia do paciente e a quantidade que vai comprar, sendo que na maior parte das vezes são as vendedoras que ditam a quantidade, já que dão as instruções de como o paciente vai tomar.

“Aprendi esta profissão com a minha avó. É ela quem me ensinou o nome dos medicamentos, a forma como se pode tomar e que doenças cada uma das raízes combate”, explicou Jany Makiesse, uma das zungueiras interpelada pelo Expansão na baixa de Luanda, e que tem este trabalho como o seu “ganha-pão” há 16 anos.

Beco 7

O mercado dos Kwanzas é o maior fornecedor deste tipo de medicamentos, vindos maioritariamente da província do Uíge. Esta semana, o Expansão visitou o Beco 7, um local adjacente ao mercado onde as ervas e as raízes são descarregadas dos camiões e carrinhas, e expostas para venda a grosso e a retalho.

“Temos todo o tipo de medicamentos e ajudamos a tratar todo o tipo de doenças”, esta é das frases mais ouvidas dos vendedores para atrair quem visita aquele beco localizado ao redor do maior mercado de venda informal de medicamentos, situado no município do Cazenga.

Trata-se de uma variedade de medicamentos naturais e tradicionais expostos ao sol e à poeira, estendidos de forma desordenada em bancadas, papelões e até no chão, sem qualquer higiene ou condições de conservação. Um cenário aterrador conhecido por todos, mas que se mantém em funcionamento há anos.

“O efeito destes medicamentos não é reconhecido, a dosagem que a pessoa deve tomar para obter o efeito que necessita não é conhecida, o indivíduo que vende também não é certificado e, então, tem tudo para fazer mal à saúde”, refere o médico Jeremias Agostinho, confirmando que “o uso destes produtos não é aconselhável”.

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