Mundo reage negativamente ao golpe no Gabão
As reacções internacionais de condenação ao golpe de Estado ocorrido na manhã de ontem, quarta-feira, 30 de Agosto, no Gabão não se fizeram esperar.
O presidente da Comissão da União Africana (UA) “condena veementemente a tentativa de golpe de Estado” no Gabão, denunciando-a como uma “violação flagrante” dos princípios da organização continental, numa declaração publicada ontem. Moussa Faki Mahamat “apela ao exército nacional e às forças de segurança para que cumpram estritamente a sua vocação republicana, de modo a garantir a integridade física do Presidente da República [Ali Bongo Ondimba], dos membros da sua família, bem como dos membros do seu governo.”
“Moussa Faki acompanha com grande preocupação a situação na República Gabonesa e condena veementemente a tentativa de golpe de Estado [no] país como forma de resolver a sua actual crise pós-eleitoral”, refere o comunicado da UA. “Reitera veementemente que tal constitui uma violação flagrante dos instrumentos jurídicos e políticos da União Africana, incluindo a Carta Africana sobre Eleições, Democracia e Governação”.
Também a China, poucas horas após a intervenção televisiva dos golpistas, apelou a que “actuassem no interesse fundamental do povo gabonês”. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou igualmente às “partes envolvidas para que resolvam pacificamente os seus diferendos através do diálogo, para que regresse imediatamente à ordem constitucional e se garanta a segurança pessoal de Ali Bongo”, descrito como um “velho amigo” pelo Presidente Xi Jinping durante uma visita à China em Abril último.
Por seu turno a Rússia afirmou que estava a acompanhar a situação no Gabão com “profunda preocupação”. Josep Borrell, o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, considerou que o golpe de Estado poderia aumentar ainda mais a instabilidade na região. No final da tarde, os Estados Unidos e o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, condenaram também o levantamento militar. A Alemanha também alinhou pelo mesmo diapasão, mas não deixou de referir que “há críticas legítimas à transparência e à legalidade das recentes eleições.”
Em França, antiga potência colonial, sucederam-se as reacções de políticos e do governo. O Gabão e a família Bongo são, desde há muito, o símbolo por excelência da “Françafrique”. As autoridades reiteraram a condenação do golpe de Estado e apelaram ao regresso à ordem constitucional. A França apelou igualmente à realização de “eleições livres e transparentes.”
Paris considera que o resultado das eleições presidenciais, vencidas por Ali Bongo, “não foi certificado nem formalizado”. Ao início da manhã de ontem, a primeira-ministra, Elisabeth Borne, explicou que estava a acompanhar a situação “com a maior atenção”. O antigo Presidente François Hollande lamentou a ausência de “reacções suficientemente claras, incluindo da França, ao primeiro golpe de Estado no Mali em 2020”. Para Hollande, este facto é “uma forma de aceitação e acredita que os militares se tornaram mais corajosos”. Jean-Luc Mélenchon, uma das principais figuras da oposição de esquerda, afirmou que “mais uma vez, Macron terá comprometido a França ao apoiar o intolerável até ao fim.”