
Energia solar transforma zonas rurais de Angola
Em Angola, o acesso a energia não está ao alcance de todos. Nas zonas rurais, este é bastante mais limitado. Aqui, a madeira e o carvão vegetal continuam a ser a principal fonte de energia e de subsistência. Por este motivo, as mulheres que vivem nestas zonas passam grande parte do seu tempo a recolher estes recursos de biomassa e a utilizá-los para cozinhar.
Estas comunidades rurais fazem parte, predominantemente, dos dois terços da população que dependem da agricultura para alimentação, rendimento e emprego, com as mulheres a contribuírem para a maioria da força de trabalho na colheita e venda, bem como na procura e utilização de combustíveis alternativos para cozinhar, muitas vezes com riscos para a saúde.
Recentemente, para fazer face a esta carência, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, sigla em inglês) estabeleceu uma parceria com o Governo Provincial da Huíla e a ONG local, ADRA, de forma a expandir a electrificação fora da rede a nível comunitário.
“Com os painéis solares, já ninguém estuda com candeeiros ou cozinha com pedras e lenha. Antes, tínhamos de nos baixar, soprar o fogo para o acender e ter cuidado para não nos queimarmos”, referiu Maria Eva, membro da Cooperativa Ngango, à publicação online do PNUD de Angola.
Maria Eva é uma das 44 mulheres da cooperativa que transforma a produção agrícola em produtos comercializáveis, aumentando os seus rendimentos.
A instalação de 93 sistemas solares domésticos para apoiar as actividades agrícolas, incluindo no centro de transformação de produtos agrícolas, proporcionou não só o acesso a energia limpa às 235 famílias da aldeia de Palanca II (Humpata), como também facilitou o acesso a água e o estabelecimento de sistemas básicos de irrigação, com um impacto imediato na produtividade agrícola, na segurança alimentar e na geração de rendimentos.
Grande impacto na Educação
Os membros da cooperativa beneficiaram de formação, nomeadamente em matéria de transformação e conservação de produtos agrícolas e de comercialização. Desde bolos de abóbora e compotas de tomate a frutos e legumes secos, os produtos são vendidos em feiras e mercados locais. Para além disso, fornecem lanches orgânicos à escola vizinha, promovendo uma alimentação mais saudável para os alunos.
Mas o impacto na educação é ainda mais evidente na região dos Gambos, onde foram fornecidos sistemas solares domésticos aos moradores.
Luciana Paula, agora alfabetiza crianças e adultos à noite em sua casa, sendo igualmente membro da Cooperativa Tyheteketela, que se concentra a sua actividade no processamento de alimentos, produção de chouriço e torresmos.
A comunidade de Gambos é um exemplo de como as pessoas podem transformar as suas próprias vidas com os recursos certos. Com a instalação de painéis solares, não só estão a melhorar a educação e a aumentar o seu rendimento, como também a expandir o seu negócio.
“Com o painel solar e os equipamentos fornecidos, a produção que costumava levar um dia inteiro devido à falta de energia agora é concluída em 3 a 4 horas”, refere Antónia Sapalo, membro da Cooperativa Tyheteketela.
Com os lucros das suas vendas, estão a construir um defumador e um armazém para aumentar ainda mais a produção e acrescentar valor, demonstrando a sua capacidade de conduzir avanços sustentáveis.
Tendo como base os sucessos alcançados na Huíla e em Benguela, o PNUD pretende continuar a trabalhar para abraçar a transformação das economias rurais, melhorando a comercialização, conservação e transformação de culturas para impulsionar ainda mais a produtividade agrícola, melhorar as oportunidades educacionais e o desenvolvimento económico local em mais regiões.
Estas iniciativas vão muito além dos desafios energéticos. Abordam também aspectos críticos da segurança alimentar nas comunidades rurais e a protecção do ambiente através da promoção de energias limpas em zonas vulneráveis às alterações climáticas.