
Destacado papel dos escritores na divulgação da História do país
O escritor e historiador Alberto Oliveira Pinto realçou, quarta-feira, em Luanda, que Angola vive uma realidade especial nestes 50 anos de Independência Nacional, em que os escritores desempenharam um papel fundamental na divulgação e pesquisa sobre a História do país.
Durante o debate inaugural do ciclo de palestras que visa celebrar os 50 anos da Independência Nacional, o premiado escritor e historiador referiu que abordar a História implica sempre um ponto de interrogação.
Na dissertação, apontou exemplos de autores como Pepetela e outros que, ao longo dos 50 anos de Independência, muitas vezes, substituíram os académicos, pesquisando a História de Angola em busca da verdade dos factos.
“Portanto, há sempre uma exploração entre a história e a literatura, mas, no caso de Angola, nos últimos 50 anos essa relação foi muito significativa”, defendeu.
Questionado sobre a forma como analisa os escritores com forte carga de história nas suas obras, o orador disse que tem aprendido muito com a produção literária em obras de Pepetela, Arnaldo Santos, Henrique Abranches e muitos outros escritores angolanos.
Alberto Oliveira Pinto revelou ter feito recurso a obras desses escritores para produzir um ensaio sobre a oralidade entre um romance histórico de Pepetela e outro de Arnaldo Santos, embora reconheça serem escritores de tempos diferentes. “Escrevi romances históricos, mas aprendi muito com eles. Destaco o romance ‘Mazanga’, sobre a Ilha de Luanda e a origem dos axiluanda, com o qual ganhei o Prémio Sagrada Esperança, em 1998”, disse.
Doutor em História de África pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o prelector revelou que já escrevia literatura e se interessava por temas históricos, mas lamentou o facto de ter tomado a decisão de se tornar historiador muito tarde, aos 34 anos, aquando do regresso a Angola, em 1996, depois de muitos anos de vivência em Portugal.
“Voltei cá em 1996, aqui mesmo nesta sala da União dos Escritores Angolanos, e já tinha livros publicados. Ao voltar, percebi que não sabia nada sobre o país, foi assim que nasceu a paixão pela pesquisa da História de Angola. Já escrevia romances históricos, quando pensava que a história não passava de pano de fundo para os meus romances”, recordou.
Na qualidade de anfitrião, o secretário-geral cessante da União dos Escritores Angolanos (UEA), David Capelenguela, reconheceu que Alberto Oliveira Pinto tem sido um dos historiadores que tem contribuído bastante para o conhecimento da história recente e não só do país, embora viva na diáspora.
“O debate com este membro desta Casa das Letras mostra que celebrar os 50 anos da nossa Independência exige a contribuição de todos os saberes, principalmente, a partilha com jovens académicos ávidos em procurar novos caminhos ou factos para as suas pesquisas”, avaliou.
Promovido pelo Memorial Dr. António Agostinho Neto, o ciclo de palestras, em Luanda, encerrou hoje, às 14h00, na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, onde Alberto Oliveira Pinto ministrou o debate sobre “Lugares de Memória de Angola antes e depois da Independência”.
A agenda de Alberto Oliveira Pinto culmina no dia 4 de Junho, na cidade do Huambo, às 9h00, no Centro Cultural Manuel Rui, onde vai debater temas como a figura de Norton de Matos e a fundação daquela cidade, assim como as bases do nacionalismo angolano.