Bolseiros angolanos na Rússia regressam ao país engenheiros, médicos e músicos
Um grupo de 27 estudantes bolseiros regressaram, esta quinta-feira, ao país, provenientes da Rússia, onde se formaram em diversas áreas, depois de superarem as barreiras da língua e as incertezas do último ano, marcado pelo conflito com a Ucrânia.
O grupo, constituído maioritariamente por licenciados em medicina geral (12), integrava também recém-formados em artes musicais, pediatria, pedagogia, geologia aplicada e engenharia aeronáutica, bem como mestres em mecânica, geologia de petróleo e gás, gestão de recursos humanos, informática e ciências da computação e tecnologia financeira e análise de dados.
Cesaltina Bastos, que viveu na cidade russa de Rostov-na-donu durante sete anos e meio, onde se formou em medicina geral, foi uma das bolseiras recebida ao som da orquestra sinfónica Kapossoca, à qual pertencem três dos recém-formados.
A angolana contou à Lusa que dedicou o seu primeiro ano a aprender a língua, “muito complexa”, e os restantes à formação, ressaltando que, apesar das dificuldades de viver num país estrangeiro e longe da família, a vontade de se formar era mais forte.
“Mas saímos psicologicamente preparados, (sabíamos) que as dificuldades seriam muitas, mas que venceríamos, porque saímos daqui com um propósito”, referiu Cesaltina Bastos, ressaltando também a ajuda que tiveram de várias pessoas, nomeadamente amigos, professores e colegas russos.
O último ano, marcado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia e foi “de muito pânico”, afirmou a licenciada, ressalvando que não sentiu diretamente os efeitos da guerra, apenas as sanções aplicadas ao país.
“Mas ouvíamos tantas notícias, ‘fake news’, e isso deixou-nos muito desestabilizados e desestabilizava também as famílias por cá, era difícil conciliar isso, eles achavam que estávamos a ocultar informações, o que não era verdade. Tínhamos medo (não sabíamos) se realmente iríamos conseguir terminar e receber os diplomas sem que fossemos atacados, mas isso não aconteceu”, frisou.
“Ficámos muito sentidos, nos compadecemos com o que aconteceu na Ucrânia, porque são nossos compatriotas, guerra é só destruição, mortes, ficámos mesmo muito compadecidos com isso”, acrescentou.
Por seu turno, Eduardo Barradas, que se formou em arte musical, considerou a “experiência muito boa”, realçando o que aprendeu durante o tempo que viveu distante da família.
“Foi difícil no princípio, porque fui para uma cidade em que na minha faculdade era o único africano”, relatou à Lusa, descrevendo ainda assim a experiência como “útil e agradável”.
“Aprendi muita coisa, desenvolvi-me mais como pessoa, aprendi a virar-me sozinho, sem a presença da mãe”, referiu.
Agora formado, prosseguiu Eduardo Barradas, que viveu durante cinco anos na cidade de Voronezh, pensa continuar a sua carreira musical, na orquestra sinfónica do Kaposoca, onde iniciou o gosto pela música.
“O último ano para nós foi normal, apesar do confito entre a Rússia e a Ucrânia. Houve alguns conflitos próximo da minha cidade, mas não vivi nada negativo”, sublinhou, realçando que o acesso à informação era fácil e contaram sempre com o apoio do Governo.
Já Maciel Hebo, igualmente formado em arte musical, na cidade de Chelyabinsk, destacou que o princípio foi difícil, “mas com todo o esforço, toda a dedicação” conseguiu alcançar resultados positivos.
“Foi difícil, a todo o momento tenebroso, mas ainda assim foi muito bom, conseguimos adquirir uma boa experiência. Foi mais difícil a adaptação por causa da língua, a barreira cultural e linguística, mas depois fomos nos acostumando”, frisou.
Em declarações à imprensa, o secretário de Estado para o Ensino Superior, Eugénio da Silva, manifestou-se satisfeito pela recepção a estes estudantes agora licenciados, que vão contribuir para o desenvolvimento de Angola.
“Chegaram ao país, cumpriram uma missão, formaram-se, regressaram ao país, são filhos da pátria que regressam com a sua missão cumprida e nós congratulamo-nos com este sucesso, desejando que consigam uma boa integração socioprofissional e que possam dar o seu contributo no país”, salientou.
O governante angolano disse que, através da missão diplomática angolana na Rússia, foi feito o acompanhamento dos estudantes durante a guerra, garantindo que os mesmos “não sofreram o impacto desta situação da guerra entre a Rússia e a Ucrânia”.
“Estiveram bem acompanhados e tanto é que conseguiram acompanhar os seus estudos, há outro grupo que ainda ficou e vai continuar e para nós é um motivo de grande satisfação, de alegria tê-los cá no país”, disse, afirmando que esta é uma demonstração da aposta do executivo angolano na formação de quadros angolanos.