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Angola celebra Centenário de Agostinho Neto

Angola celebra hoje, sábado, o centenário do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, com a realização de várias actividades políticas e culturais.

Das actividades programadas para a comemoração do aniversário de Neto, constou a realização de uma gala de homenagem, sexta-feira, em Luanda, uma iniciativa do Ministério da Cultura e Turismo.

O evento ficou marcado com música ao vivo ao som da banda Movimento e a declamação de poemas de Neto.
Igualmente, consta a realização de um Festival internacional de Música no Sumbe (Cuanza- Sul) “FestiSumbe” e um Culto Ecuménico, na vila de Catete (Icolo e Bengo), sábado e domingo, entre outras actividades sócio-culturais e desportivas no país e no estrangeiro. respectivamente.
António Agostinho Neto, homem ligado a cultura, nasceu a 17 de Setembro de 1922, em Kaxicane, Icolo e Bengo, e faleceu a 10 de Setembro de 1979, vítima de doença, na ex- União Soviética.

O pai era pastor e professor da Igreja Metodista e a sua mãe era igualmente professora.

Após ter concluído o curso liceal em Luanda, trabalhou nos Serviços de Saúde e viria a tornar-se rapidamente uma figura proeminente do movimento cultural nacionalista que, durante os anos 40, conheceu uma fase de vigorosa expansão em Angola.

Decidido a formar-se em Medicina, embarca para Portugal em 1947 e matricula-se na Faculdade de Medicina de Coimbra e posteriormente na de Lisboa. Dois anos depois da sua chegada à Portugal, foi-lhe concedida uma bolsa de estudo pelos Metodistas Americanos.

Envolve-se desde muito cedo em actividades políticas, sendo preso em 1951, quando reunia assinaturas para a Conferência Mundial da Paz em Estocolmo. Após a sua libertação, retoma as actividades politicas e torna-se representante da Juventude das colónias portuguesas junto do Movimento da Juventude Portuguesa, o MUD juvenil.

E foi no decurso de um comício de estudantes a que assistiam operários e camponeses que a PIDE o prendeu pela segunda vez, em Fevereiro de 1955 só vindo a ser posto em liberdade em Junho de 1957.

Por altura da sua prisão em 1955, veio ao lume um opúsculo com poemas seus, que denunciavam as amargas condições de vida do Povo angolano.

A sua prisão desencadeou uma vaga de protestos em grande escala. Realizaram-se encontros; escreveram-se cartas e enviaram-se petições assinadas por intelectuais franceses de primeiro plano, como Jean-Paul Sart, André Mauriac, Aragon e Simone de Beauvoir, pelo poeta cubano Nicolás Gullén e pelo pintor mexicano Diogo Rivera, e em 1957, Agostinho Neto foi eleito Prisioneiro Político do Ano pela Amnistia Internacional.

Em 1958, Agostinho Neto licenciou-se em Medicina e, casou com Maria Eugénia Neto, no próprio dia em que concluiu o curso. Neste mesmo ano, foi um dos fundadores do clandestino Movimento Anticolonial (MAC), que reunia patriotas oriundos das diversas colónias portuguesas.

A 30 de Dezembro de 1959, Neto voltou ao seu país com a mulher, Maria Eugénia Neto, e o filho de tenra idade, e passou a exercer a medicina entre os seus compatriotas. A 8 de Junho de 1960, o director da PIDE veio pessoalmente prender Neto no seu Consultório em Luanda.

Uma manifestação pacífica realizada na aldeia natal de Neto, em protesto contra a sua prisão, foi recebida pelas balas da Polícia. Trinta mortos e duzentos feridos foi o balanço do que passou a designar-se pelo Massacre de Icolo e Bengo.

Receando as consequências que podiam advir da sua presença em Angola, mesmo encontrando-se preso, os colonialistas transferiram Neto para uma prisão de Lisboa e, mais tarde, enviaram-no para Cabo Verde, para Santo Antão e, depois para Santiago, onde continuou a exercer a medicina sob constante vigilância política. Foi durante este período, eleito Presidente Honorário do MPLA.

Por mostrar a alguns amigos em Santiago (Cabo Verde) uma fotografia, em que um grupo de jovens soldados portugueses sorriam para a câmara, segurando um deles uma estaca em que foi espetada a cabeça de um angolano e inserta em diversos jornais (por exemplo, no Afrique Action, semanário que se publica em Tunes) Agostinho Neto foi preso na cidade da Praia em 17 de Outubro de 1961 e transferido depois para a prisão de Aljube em Lisboa.

Sob forte pressão, interna e externa, as autoridades fascistas viram-se obrigadas a libertar Neto em 1962, fixando-lhe residência em Portugal. Todavia, pouco tempo depois da saída da prisão, Agostinho Neto, em Julho de 1962, saiu clandestinamente de Portugal com a mulher e os filhos pequenos, chegando a Léopoldville (Kinshasa), onde o MPLA tinha ao tempo a sua sede exterior.

Em Dezembro desse ano, foi eleito Presidente do MPLA durante a Conferência Nacional do Movimento.
Em 1970, foi-lhe atribuído o Prémio Lótus, pela Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos, com a “Revolução dos Cravos” em Portugal e a derrocada do regime fascista de Salazar, continuado por Marcelo Caetano, em 25 de Abril de 1974.

O MPLA considerou reunidas as condições mínimas indispensáveis, quer a nível interno, quer a nível externo, para assinar um acordo de cessar-fogo com alvo da mais grandiosa manifestação popular de que há memória em Angola.

Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, foi eleito pelos seus pares o seu primeiro Presidente.

António Agostinho Neto deixou ainda um legado literário onde se destacam as obras “Sagrada Esperança”, “A Renúncia Impossível”, “Amanhecer”, “Quatro Poemas de Agostinho Neto” e “Poemas”.

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