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Transformações no oceano ampliam os efeitos da alterações climáticas revela estudo

O boletim especializado Nature Climate Change, da revista científica Nature, com data de ontem, terça-feira, dia 25, alerta que o oceano, o sistema de apoio à vida da Terra, está a passar por mudanças rápidas e únicas, que estão a levar os impactos das alterações climáticas nos ecossistemas marinhos a atingirem dimensões imprevisíveis.

De acordo com a agência Lusa, o estudo indica que o aquecimento, alterações de salinidade, perda de oxigénio e acidificação – todos fenómenos resultantes das mudanças climáticas – estão a acontecer em simultâneo e a alterar, de maneira clara e sem precedentes, os primeiros mil metros de profundidade [a profundidade média do oceano é de cerca de 4 mil metros].

A investigação – liderada por cientistas do Instituto de Física Atmosférica (IFA) da Academia Chinesa das Ciências, com colaboração de investigadores das instituições francesas Mercator Ocean International (MOI) e Laboratório de Meteorologia Dinâmica (LMD) da Escola Normal Superior – concluiu que “entre 30% e 40% das camadas superiores do oceano já sofreram mudanças significativas em, pelo menos, duas características críticas, quando comparadas com dados de há 60 anos.”

O Atlântico subtropical, o Pacífico norte, o Mar Arábico e o Mediterrâneo são as regiões do oceano global onde as alterações cumulativas nos primeiros mil metros de profundidade são mais intensas, segundo um quadro de referência normalizado criado pelos investigadores para avaliar parâmetros essenciais do oceano.

Alterações dramáticas

O autor principal do artigo científico que dá conta das conclusões do estudo, Zhetao Tan, investigador do IFA, considera: “Em algumas áreas, o oceano regista alterações dramáticas, simultâneas e cumulativas em parâmetros fundamentais como temperatura, salinidade e níveis de oxigénio.”

“As características do oceano estão a modificar-se em múltiplas dimensões em simultâneo, e mesmo o oceano profundo, até recentemente considerado muito estável, está a modificar-se mais rapidamente do que pensávamos”, afirma o cientista do IFA Lijing Cheng, citado num comunicado da Academia Chinesa das Ciências.

Por sua vez, Sabrina Speich, investigadora do LMD, sublinha, citada no mesmo documento, que as conclusões do estudo “são baseadas em observações e análise directas de parâmetros físicos, bioquímicos e geoquímicos, e tornam clara a necessidade urgente de estabelecer mecanismos permanentes e de alta qualidade de monitorização do estado do oceano, para sustentar a necessária acção climática global.”

De acordo com o estudo, as alterações rápidas, nunca antes vistas, e de parâmetros críticos do estado do oceano, estão a provocar mudanças nos ecossistemas marinhos que põem em causa as comunidades humanas que deles dependem. “As alterações múltiplas, simultâneas e cumulativas nas características do oceano geram factores de stress nas espécies marinhas que resultam, por exemplo, em mudanças de padrões e rotas migratórias e no declínio de populações, o que pode comprometer a actividade pesqueira, criar problemas de insegurança

alimentar e pôr em causa a própria existência de comunidades costeiras”, adverte outro dos autores do estudo, o investigador do LMD Laurent Bopp.

Para além dos impactos na biodiversidade e na utilização de recursos do oceano pela humanidade, as alterações identificadas pelo estudo resultam também na diminuição da capacidade de o oceano absorver dióxido de carbono e calor atmosférico, colocando em causa a função essencial daquele como regulador do clima da Terra.

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