
Zelensky encontra-se com imprensa africana e descansa o continente em relação à crise dos cereais
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, recebeu ontem, dia 14, no seu gabinete de trabalho, em Kiev, um grupo de jornalistas africanos que visitaram o país a convite do Governo.
No encontro, Zelensky reiterou que a Ucrânia não pode alterar o curso da guerra sem os F16s e sem os tanques Abrams fornecidos pelos EUA. Os F16s são particularmente importantes porque a Rússia está com grande superioridade aérea.
O chefe de Estado ucraniano manifestou a sua preocupação com os sinais de que o apoio financeiro e militar dos EUA e da União Europeia (UE) à Ucrânia poderá estar a diminuir, uma vez que os republicanos conservadores do Congresso dos EUA bloqueiam a ajuda financeira e a Hungria, pró-russa, bloqueia o apoio financeiro da UE. E acrescentou que “uma diminuição do apoio financeiro colocaria a Ucrânia perante escolhas difíceis entre pagar o seu esforço de guerra e prestar serviços sociais essenciais à sua população, o que poderia causar uma crise.” Mas isso não impediria a Ucrânia de lutar, insistiu, lembrando como a Ucrânia tinha resistido à invasão russa no início usando apenas os seus próprios recursos.
Num outro desenvolvimento, acusou a Rússia de cumplicidade na guerra entre Israel e o Hamas. Zelensky expôs a teoria de que a Rússia interveio através do seu aliado Irão para desviar a atenção do mundo do conflito na Ucrânia, tal como interveio na Síria em 2014 para desviar a atenção da sua invasão das regiões ucranianas da Crimeia e do Donbas.
Cyril Ramaphosa “compreendeu” o plano de paz
Zelensky disse acreditar que a visita do Presidente Cyril Ramaphosa à Ucrânia, em Junho passado, mudou a sua atitude em relação à guerra Rússia-Ucrânia, tendo este passado a compreendê-la melhor.
Depois de Ramaphosa e de outros líderes africanos envolvidos na missão de paz africana se terem encontrado com Zelensky, este afirmou que puderam ir ao encontro do Presidente russo, Vladimir Putin, munidos de argumentos verdadeiros, não tendo apenas de ouvir as suas falsas narrativas sobre a guerra. “Os líderes africanos puderam ver as consequências vergonhosas do ataque da Rússia ao nosso povo e, em especial, às nossas crianças”, disse Zelensky que acrescentou “ter falado com Ramaphosa sobre a fórmula de paz da Ucrânia, que exige a retirada total das forças russas do país, e ele compreendeu-a”, disse.
Certo é que após esta visita, Ramaphosa enviou o seu conselheiro de segurança nacional, Sydney Mufamadi, para participar na primeira ronda de conversações internacionais sobre a fórmula de paz para a Ucrânia, em Copenhaga. Desde então, Mufamadi participou em mais duas rondas, em Jeddah e Malta.
Segurança alimentar
Outro tema relevante do encontro com a imprensa africana foi a segurança alimentar provocada pela crise dos cereais. Os países africanos têm estado particularmente preocupados com o facto de a guerra na Ucrânia ter interrompido as exportações de cereais e outros géneros alimentícios do país, que era um dos principais celeiros do mundo. Esta situação provocou a escassez de alimentos e o aumento dos preços, atingindo África de forma particularmente dura.
Vários jornalistas africanos perguntaram a Zelensky sobre o impacto da retirada da Rússia da Iniciativa para a Produção de Cereais do Mar Negro, em Julho. Ao abrigo desse acordo, a Rússia levantou o bloqueio aos portos ucranianos no Mar Negro.
Zelensky referiu que mais de 32 milhões de toneladas de cereais e outros alimentos foram exportados entre Agosto de 2022 e Julho de 2023, altura em que a Rússia se retirou. O preço dos cereais disparou entre 200 e 300%.
Contudo, garantiu aos africanos que o corredor paralelo de cereais da Ucrânia irá resolver o problema. No primeiro mês, o corredor exportou cerca de quatro milhões de toneladas, o que corresponde ao nível de exportações registado antes da guerra.
A Ucrânia criou o seu corredor paralelo, não só porque precisava das receitas das exportações de cereais, mas também para demonstrar que estava empenhada na segurança alimentar.
Zelensky afirmou que a Ucrânia tenciona criar centros de cereais noutros países, incluindo possivelmente a África do Sul, para diversificar as fontes de cereais em diferentes estações do ano e tornar África menos dependente das circunstâncias da guerra.