
Uma tonelada de ouro sai diariamente do continente africano de modo clandestino
A organização suíça Swissaid acaba de publicar um estudo inovador sobre a quantificação da produção artesanal e em pequena escala de ouro no continente africano. É a primeira vez que se efectua um estudo desta envergadura. Os resultados são surpreendentes: estima-se que uma tonelada de ouro saia, de uma forma clandestina, do continente africano todos os dias.
Os investigadores levaram quatro anos a recolher, cruzar e corrigir os milhares de dados recolhidos. Uma tarefa “exaustiva”, sublinham os investigadores. “Calculámos que, em 2022, um total de 435 toneladas [de ouro] foram contrabandeadas para fora de África. E, obviamente, se dividirmos 435 por 365, obtemos mais de uma tonelada por dia”, explica Yvan Schulz, gestor de projectos na Swissaid e coautor do estudo.
A produção artesanal de ouro explodiu com a subida dos preços do metal precioso no mercado. Este facto também incentivou a sua extracção e o comércio ilegal, salienta Marc Ummel, responsável pelas matérias-primas na Swissaid. “Quando olhamos para o contrabando de ouro, a maioria dos países africanos está envolvida nele”, explica o co-autor do estudo. Há mesmo mais de 12 países africanos envolvidos no contrabando de mais de 20 toneladas por ano. De acordo com as análises de Swissaid, os países que mais contribuem são o Mali, Gana, Zimbabwe, Níger, Costa do Marfim e Sudão.
Falta de transparência propositada
Pela sua própria natureza, estes fenómenos são difíceis de documentar. O contrabando é efectuado nas minas, em regiões isoladas, por garimpeiros clandestinos que exercem um comércio informal. A falta de vontade política em alguns países é também um factor importante. “Em alguns países, há uma vontade política de esconder dados, levando à falta de transparência. Tivemos grande dificuldade em obter dados do Ruanda e da Etiópia, por exemplo. Em alguns países, foi praticamente impossível, como por exemplo na Eritreia e na Líbia”, salienta Marc Ummel.
“Obviamente, quando o governo ou certos representantes do governo, estão directamente envolvidos neste comércio, quando têm interesse nele, não é desejável haver transparência”, acrescenta o especialista.
Os autores sublinham que a produção informal favorece as violações dos direitos humanos, o financiamento de grupos armados e o aumento dos problemas ambientais. Além disso, assinalam a perda significativa de receitas para os Estados africanos. O equivalente a 35 mil milhões de dólares de ouro ilícito pode sair do continente todos os anos.