Sonangol emite dívida para pagar fornecedores e investimentos
A dívida de 75 mil milhões de kwanzas em obrigações lançada, segunda-feira, pela Sonangol, no mercado nacional, vai ser empregue no pagamento de fornecedores e em investimentos, anunciou o presidente do Conselho de Administração da petrolífera estatal, numa conferência de imprensa de apresentação da operação.
Sebastião Gaspar Martins lembrou que a Oferta Pública de Subscrição de Obrigações da Sonangol, como se designa a operação do ponto de vista formal, é a primeira vez em que uma instituição não financeira de direito angolano recorre ao mercado de bolsa para captar recursos, marcando um novo ciclo no processo de percepção de financiamento no país.
O valor, prosseguiu, não é suficiente para cobrir as necessidades de negócio da empresa, mas, constitui um “balão de ensaio” para avaliar e ajudar a dinamizar os mercados, que é uma das responsabilidades da estatal.
“Vamos regularmente ao mercado internacional e, pela primeira vez, estamos aqui no mercado nacional para contribuir, não só para a nossa economia, mas também para a resolução dos nossos problemas. O valor em causa, não é suficiente, mas é o nosso contributo que possibilita que a banca e as pessoas usem parte das poupanças em investimentos que têm um retorno garantido”, frisou.
O Jornal de Angola apurou que a Sonangol emprega cerca de dois mil milhões de dólares por ano na cobertura das suas necessidades de investimento.
A operação está a ser intermediada pelos bancos Standard Bank (SBA) e de Fomento Angola (BFA), bem como pela sociedade distribuidora de valores mobiliários Áurea.
A escolha de tais instituições levou em consideração factores como os termos de custos com operação na intermediação e outras questões como a garantia da subscrição: na eventualidade remota de a colocação da dívida obrigacionista não for totalmente tomada pelo mercado, os bancos avançam e assumem a responsabilidade.
Taxa mais atractiva
Em entrevista, o director de Estruturação da Àurea, Samuel Franco, esclareceu que a taxa definida para o empréstimo sobre os sete milhões e meio de obrigações emitidas pela Sonangol prevê um prémio de 2,5 por cento, é considerada atractiva diante das emissões semelhantes do Estado angolano.
Actualmente, a dívida soberana para o mesmo período de cinco anos paga uma taxa de 15 por cento ao ano.
Para Samuel Franco, o prémio” faz todo o sentido” porque a risco Sonangol não é risco soberano e é uma forma de cativar investidores, além que, em todo o mundo, todas as empresas privadas ou públicas têm sempre um prémio acima daquilo que o Estado paga.
Relativamente à emissão de obrigações da Sonangol, a taxa cobrada, de 17,5 por cento ao ano, reuniu consenso por parte dos intermediários financeiros e de alguns investidores previamente contactados, bem como da própria Sonangol, que considerou ser um valor que deve ser pago.
A taxa é também considerada, pelos investidores particulares e pequenos aforradores, mais atractiva em relação às taxas actuais praticadas pelos bancos comerciais que operam no mercado angolano.
De acordo com Samuel Franco, normalmente, os bancos comerciais não estão a dar taxas superiores a um ano, porém, as taxas actuais variam entre 13 e 14 por cento. “As taxas variam de cliente para cliente: há muitos bancos onde podem chegar aos 19 por cento, mas, neste momento, não conheço nenhum”, ressaltou.
Fortalecimento da base financeira do mercado
Na abertura do acto de apresentação, o secretário de Estado para o Petróleo e Gás, José Barroso, afirmou que, com a emissão de dívida da Sonangol em bolsa, o Executivo procura fortalecer a base financeira do país e impulsionar o desenvolvimento económico de maneira sustentável.
O acto, considerado “histórico” para o sector empresarial público, com o Estado, enquanto accionista da Sonangol, “bastante confiante” com o que o secretário de Estado chamou “este grande passo”, principalmente, pelo impacto positivo, a emissão deverá ter no mercado financeiro nacional.
É parte dos planos do Estado a curto e médio prazos, que outras empresas públicas optem por diversificar as fontes de financiamento através do Mercado de Capitais angolano, para propiciar a sua potencialização.
“A Sonangol, tem, em nossa humilde opinião, uma trajectória sólida de crescimento e rentabilidade e, esta emissão, irá permitir obter fundos de que necessita para investir em projectos estratégicos, que deverão impulsionar, de forma crescente e sustentável, o sucesso da nossa companhia de bandeira”, referiu.
José Barroso instou todos os operadores do mercado, independentemente da sua dimensão, a adoptaram estratégias semelhantes, o que, “certamente, garantirá boa rentabilidade a todos”.
Reafirmou ainda que o Executivo angolano tem o compromisso de listar a Sonangol em bolsa, até 2026, pelo que, adiantou, “esta emissão constitui um elemento crucial no processo que nos conduzirá à Oferta Pública Inicial (OPI) da empresa”.