Rússia e Argélia aprofundam parceria estratégica em Moscovo
A Rússia conferiu um carácter especial à visita do presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, a Moscovo, que teve início esta quarta-feira.
O caso não é para menos. Esta é a primeira vez, desde a viagem do antigo presidente Bouteflika a Moscovo em 2008, que um Chefe de Estado argelino efectua uma visita oficial à Rússia. Na quarta-feira, o representante especial do presidente russo para o Médio Oriente e África, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Mikhail Bogdanov, já tinha descrito a visita como um “acontecimento histórico”. Com os laços com os países ocidentais consideravelmente enfraquecidos, os laços com os países considerados amigos da Rússia são particularmente valorizados.
Este encontro é também um marco no intenso esforço diplomático russo para preparar a cimeira Rússia-África que se realizará em São Petersburgo no final de Julho. “Esperamos vê-lo lá”, disse Vladimir Putin ao seu homólogo no Kremlin. Mas, acima de tudo, foi uma celebração de uma relação bilateral que é importante para Moscovo.
Tanto Vladimir Putin como Abdelmadjid Tebboune estarão presentes na cimeira económica de São Petersburgo, mas foi em Moscovo, na sala do Kremlin reservada às delegações oficiais importantes, que o presidente russo escolheu realizar este encontro bilateral. Mais um sinal da importância atribuída à relação Moscovo-Alger: os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros também estiveram presentes na quinta-feira e as imagens do encontro e as palavras de boas-vindas foram transmitidas em directo pela televisão russa.
É claro que há o peso da história nesta relação, como recordou Vladimir Putin: “Quando o Presidente e eu atravessámos a sala, recordámos que as relações entre a Argélia e a Rússia começaram a desenvolver-se em meados da década de 1950.”
A luta pela independência da Argélia como laço fundador
A luta pela independência da Argélia continua a ser o cimento fundador da relação. Mas os laços comerciais entre as duas potências do gás, e também os laços estratégicos, vão aprofundar-se ainda mais nos próximos tempos. O texto publicado no site do Kremlin é muito claro: serão organizadas manobras e exercícios militares conjuntos entre as duas potências do gás.
Acima de tudo, a Rússia quer dissipar a ideia de que está isolada internacionalmente isolada. “Gostaria também de salientar que a coordenação russo-argelina no âmbito de formatos e organizações multilaterais também se encontra num bom nível. A nossa interação construtiva noutros fóruns da ONU prossegue, nomeadamente com a eleição da Argélia para o Conselho de Segurança em 2024. Espero que esta interação se intensifique.”
A mensagem é clara: a Rússia espera colher os benefícios do sucesso diplomático da Argélia. Antes da visita a Moscovo de vários chefes de Estado africanos, que promovem a mediação africana para pôr fim ao conflito na Ucrânia, Vladimir Putin sublinhou também o papel da Argélia como membro do grupo de contacto da Liga Árabe sobre a Ucrânia. O Presidente russo disse estar “grato à Argélia e ao Presidente argelino pela sua disponibilidade para prestar serviços de mediação.”