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ONU e Crescente Vermelho discordam quanto ao número de mortos em Derna

Na Líbia, o número de mortos devido às inundações na cidade de Derna não é consensual. De acordo com o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA), que cita o Crescente Vermelho, só em Derna morreram pelo menos 11 300 pessoas e 10 100 estão ainda desaparecidas. No entanto, ao meio-dia de ontem. Domingo, 17 de Setembro, um porta-voz do Crescente Vermelho desmentiu o número avançado pela agência da ONU.

“Estamos surpreendidos por ver o nosso nome associado a estes números. Estes números aumentam a confusão e a angústia das famílias dos desaparecidos”, declarou o porta-voz do Crescente Vermelho Líbio, Taoufik Chokri, à AFP a partir de Benghazi.

A tempestade Daniel que atingiu Derna, uma cidade de 100.000 habitantes, na noite do dia 10, provocou o rebentamento de duas barragens a montante, desencadeando uma inundação semelhante a um tsunami ao longo do rio que atravessa a cidade. A inundação arrastou tudo no seu caminho.

Othman Abdeljalil, Ministro da Saúde da administração do leste da Líbia, calculou o número de mortos em 3.252 no sábado à noite, dia 16. Num comunicado divulgado anteriormente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que os corpos de 3.958 pessoas tinham sido encontrados e identificados e que “mais de 9.000 pessoas” continuavam desaparecidas.

“A situação humanitária continua a ser particularmente sombria em Derna”, declarou o OCHA, segundo o qual a cidade não dispõe de água potável e pelo menos 55 crianças foram envenenadas após terem bebido água poluída. Todos os dias, dezenas de corpos são retirados dos escombros dos bairros devastados pelas inundações, ou do mar alto, e enterrados no meio de uma paisagem desoladora. De acordo com os habitantes locais, a maior parte das vítimas foi soterrada pela lama ou arrastada para o mar. Os socorristas malteses, que estão a ajudar os líbios nas buscas no mar, disseram ter descoberto centenas de corpos numa baía, sem especificar o local exacto, segundo o jornal Times of Malta.

Corpos no mar

“Provavelmente eram cerca de 400, mas é difícil saber o número exacto”, disse o chefe da equipa maltesa, Natalino Bezzina, ao jornal, afirmando que o acesso à baía era difícil devido aos ventos fortes. Acrescentou que a sua equipa tinha, no entanto, conseguido ajudar a recuperar dezenas de corpos. Uma equipa de salvamento líbia num barco afirmou ter visto “talvez 600 corpos” no mar ao largo da costa de Om-al-Briket, cerca de vinte quilómetros a leste de Derna, de acordo com um vídeo publicado nas redes sociais, sem especificar se se tratava dos corpos encontrados pelos malteses.

Outras equipas de salvamento líbias e estrangeiras relatam que encontram todos os dias corpos, mas as buscas são dificultadas pelas toneladas de lama que cobriram parte da cidade. As equipas de salvamento são obrigadas, na maior parte das vezes, a limpar o terreno com pás para procurar corpos em edifícios devastados.

Caos político

O trabalho das equipas de salvamento e de busca é também dificultado pelo caos político que reina no país desde a morte do ditador Muammar Kadhafi, em 2011, com dois governos rivais, um em Tripoli (oeste), reconhecido pela ONU, e outro no leste. As autoridades afirmaram também ter iniciado o complicado processo de identificação e contagem dos corpos, várias centenas dos quais foram enterrados à pressa nos primeiros dias.

 

Othman Abdeljalil, ministro da Saúde da administração do Leste da Líbia, desmentiu igualmente as informações sobre uma eventual evacuação da cidade, afirmando que apenas “certas zonas” poderiam ser “isoladas” para facilitar as operações de salvamento. Acrescentou ainda que os seus serviços, em coordenação com a OMS, estariam a “intensificar os esforços no domínio da assistência social e psicológica”.

As amostras de água estão a ser recolhidas e analisadas todos os dias para evitar uma eventual contaminação, insistiu, apelando aos habitantes da cidade para que deixem de utilizar as águas subterrâneas. A resposta internacional à catástrofe continua a ser forte. O vaivém de aviões de socorro continua no aeroporto de Benina, em Benghazi, a principal cidade do Leste, onde continuam a chegar equipas de socorro e assistência de organizações internacionais de vários países.

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