Novos ataques em Cabo Delgado criam dúvidas nos investidores, revela Consultora
A consultora Oxford Economics considerou, nesta segunda-feira, dia 13, que o recente ataque no norte de Moçambique “cria dúvidas” nos decisores dos grandes investimentos no gás natural, dos quais este país africano depende para relançar o desenvolvimento económico.
O ataque a Macomia vai criar dúvidas nas mentes dos decisores na TotalEnergies e na ExxonMobil que, juntamente com o parceiro ENI, deveriam muito em breve tomar uma decisão final de investimento sobre outro projecto”, lê-se num comentário aos mais recentes ataques no norte de Moçambique, zona que alberga vastas reservas de gás natural. “Os desenvolvimentos também causaram consternação em Maputo”, acrescentam os analistas no comentário enviado aos investidores, e a que a Lusa teve acesso.
Lembram que o fundo soberano de Moçambique já recebeu “94,2 milhões de dólares em receitas da exploração de gás e petróleo, com 20 milhões de dólares do total a serem angariados só no primeiro trimestre deste ano”.
O governo, concluem, “está desesperado por convencer os investidores a avançarem com os projectos anunciados e sabe que mais adiamentos só vão atrasar ainda mais o desenvolvimento prometido pela exploração de gás.”
O Ministério da Defesa Nacional moçambicano confirmou na sexta-feira, dia 10, um “ataque terrorista”, durante a madrugada, à vila de Macomia, garantindo que um dos líderes do grupo foi ferido pelas forças armadas e outro morto.
“O ataque durou cerca de 45 minutos e os terroristas foram prontamente repelidos pela acção coordenada das nossas forças, que obrigaram o inimigo a recuar, em direcção ao interior do posto administrativo de Mucojo”, lê-se num comunicado do Ministério da Defesa Nacional.
Cinco distritos isolados pelo ataque
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, já tinha confirmado, ao final da manhã de sexta-feira, este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que aconteceu numa zona antes controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em progressiva retirada até Julho.
“É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (…). Como estão de saída. Espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso”, reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.
A vila de Macomia situa-se na estrada Nacional 1 (N1), que faz a ligação aos distritos mais ao norte, casos de Muidumbe, Nangade, Mueda, Mocímboa da Praia e Palma, pelo que este ataque interrompeu igualmente a comunicação por terra aos cinco distritos.
Recorde-se que a província enfrenta, desde Outubro de 2017, uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, o que levou a TotalEnergies a suspender, em 2021, o projecto de construção de uma fábrica de gás natural liquefeito.
Em Fevereiro, o presidente da petrolífera francesa disse antever o regresso ainda este ano, mas condicionou o reinício das obras à garantia de segurança, avisando que se tiver de parar as obras novamente, o projecto será provavelmente abandonado.
Moçambique tem três projectos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Dois desses projectos, o da TotalEnergies e o da ExxonMobil, têm maior dimensão e preveem canalizar o gás do fundo do mar para terra, arrefecendo-o numa fábrica para o exportar por via marítima em estado líquido.