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Novo imposto europeu sobre o carbono pode custar a África 25 mil milhões de dólares/ano

O presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina, alertou para o facto de um novo imposto fronteiriço da União Europeia (UE) sobre as emissões de carbono poder restringir significativamente o comércio e o progresso da industrialização em África, penalizando as exportações de valor acrescentado, incluindo aço, cimento, ferro, alumínio e fertilizantes.

“Com o défice energético de África e a sua dependência principalmente dos combustíveis fósseis, especialmente do gasóleo, a implicação é que o continente será forçado a exportar novamente matérias-primas para a Europa, o que causará ainda mais a sua desindustrialização”, afirmou Akinwumi Adesina.

“África poderá perder até 25 mil milhões de dólares por ano como resultado directo do Mecanismo de Ajustamento do Imposto sobre as Fronteiras do Carbono da UE”, reiterou o presidente, que falava no âmbito da Conferência sobre Comércio Sustentável em África, realizada no Centro de Comércio dos EAU no Dubai. “O continente foi prejudicado pelas alterações climáticas; agora será prejudicado no comércio global”, sublinhou Adesina, acrescentando que, “devido à fraca integração nas cadeias de valor globais, a melhor oportunidade comercial do continente reside nas trocas intra-regionais, estimando-se que a nova Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) aumente as exportações intra-africanas em mais de 80% até 2035.”

O responsável destacou que o continente africano já estava a ser negligenciado na transição energética global, de acordo com dados da Agência Internacional de Energias Renováveis, pois “recebeu apenas 60 mil milhões de dólares, ou seja, 2% dos 3 biliões de dólares de investimentos globais em energias renováveis nas últimas duas décadas, uma tendência que terá agora um impacto negativo na sua capacidade de exportar competitivamente para a Europa”, comunicou Adesina, apelando ao que designou por políticas de Comércio Justo para a Transição Energética (JTET), que permitiriam as ambições de África em matéria de energias renováveis sem restringir as suas perspectivas comerciais.

Para o presidente do BAD, África terá de utilizar o gás natural como combustível de transição para reduzir a variabilidade das energias renováveis e estabilizar os seus sistemas energéticos em apoio à sua industrialização. Adesina destacou que um relatório da Moody’s Analytics mostrou que África tem a menor taxa de incumprimento no investimento em infra-estruturas em comparação com outras partes do mundo.

De acordo com o documento, a taxa de incumprimento de África é de 5,5%, em comparação com os 12,9% da América Latina, seguida da Ásia com 8,8%, da Europa Oriental com 8,6%, da América do Norte com 7,6% e da Europa Ocidental com 5,9%.

Já o director-executivo do Centro de Comércio dos EAU, Walid Mohammed Hareb Alfalahi, afirmou que África é a nova fronteira para o investimento, contrariamente à percepção generalizada de que o continente é um local perigoso e difícil para fazer negócios. “O que se ouve sobre África não é a realidade. Eu vejo o potencial do continente. Vejo as possibilidades de fazer mais”, disse Alfalahi ao contar a sua experiência positiva de investimento numa série de projectos no continente.

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