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Nigéria vai a votos em clima de grande incerteza

Os jovens nigerianos transformaram as eleições presidenciais do próximo sábado, dia 25, nas mais disputadas desde o fim do governo militar, em 1999, com muitos deles a apoiarem um candidato que surge como uma terceira via, contrariando as duas principais máquinas partidárias do país. A esperança dos jovens na mudança é grande, após anos de estagnação, corrupção e insegurança na nação mais populosa de África. Uma coisa é certa: há 10.4 milhões de jovens inscritos como eleitores pela primeira vez.

“Se a Nigéria continuar nesta queda acentuada, será desastroso, por isso este é um momento decisivo”, referiu à BBC Rinu Oduala, uma mulher de 24 anos que esteve entre os manifestantes que, há dois anos, acamparam à porta do gabinete do governador em Lagos durante semanas.

O homem que os jovens apoiam é Peter Obi, do Partido Trabalhista de 61 anos. Nem é efectivamente uma cara nova na política nigeriana, uma vez que foi anteriormente candidato a vice-presidente do Peoples Democratic Party (PDP), o principal partido da oposição. Mas é considerado alguém com outra forma de estar na política, devido à sua acessibilidade, simplicidade e ao bom desempenho no cargo de governador do estado de Anambra.

Muitos acusam o Presidente Muhammadu Buhari, que termina agora o segundo mandato, de gerir mal a economia e estar conotado com o período mais inseguro da história do país, desde a sangrenta guerra civil de 1967-1970, quando a província do Biafra lutou por uma secessão em relação ao estado central. Sob o seu governo, os jovens nigerianos de classe média viram a economia atingir níveis de inflação recorde. Um em cada três não consegue encontrar emprego e os estudantes têm sofrido com as constantes greves dos professores, estando muitos dos melhores quadros desesperados por abandonar o país. A isto soma-se a insegurança generalizada que tem visto grupos armados assassinarem mais de 10 mil pessoas e raptarem mais de 5 mil só no ano passado, de acordo com o Grupo Internacional de Crise.

Oferecendo a esperança de uma nova era, Obi não tem tarefa fácil tendo de enfrentar os gigantes do Congresso All Progressives (APC) e do PDP, que se têm alternado no poder desde o fim do domínio militar, em 1999. Os seus candidatos estão ambos na casa dos 70 anos, num país onde um terço dos 210 milhões de nigerianos tem menos de 35 anos de idade.

Factores étnicos e religiosos também influenciam a escolha de muitos eleitores. Obi tem sido abertamente apoiado pelo enorme movimento cristão evangélico da Nigéria no sul, e pode também contar com os votos dos cristãos que se sentem perseguidos no norte, onde os muçulmanos dominam. Obi pertence à etnia Igbo da zona leste, o único grande grupo que ainda não forneceu qualquer presidente ao país. Enquanto muitos apoiam a ideia de que é a sua vez de chegar no poder, os candidatos da APC e da PDP terão o apoio da esmagadora maioria da população das áreas de origem – o sudoeste e o norte, respectivamente.

O APC e o PDP têm a vantagem de serem conhecidos a nível nacional, factor com o qual o Partido Trabalhista de Obi ainda tem de lutar, especialmente nas zonas rurais ricas. Os dois primeiros partidos possuem máquinas partidárias afinadas, sobretudo em aldeias onde os eleitores são influenciados por líderes locais.

Apesar de possuir vastas riquezas de petróleo e gás, o desenvolvimento da Nigéria tem sido travado pela corrupção generalizada desde a independência em 1960. A classe dominante, seja civil ou militar, tem sido incapaz de fornecer o básico as condições básicas como electricidade, água canalizada ou empregos para a enorme população jovem.

Para estas eleições estão inscritos 93 milhões de eleitores – um recorde – 40% dos quais têm menos de 35 anos. Para muitos, porém, é difícil olhar para além das dificuldades dos últimos oito anos, exacerbadas pelo caos que a introdução de novas notas causou nas últimas semanas. Muitos têm dormido junto das ATM’s e dos bancos à espera de obter as novas notas de naira, que estão em falta num país onde muitos dependem do dinheiro físico.

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