
Morte de comerciante causa revolta popular em Cabo Delgado, Moçambique
Populares da sede dos distritos de Macomia, na província de Cabo Delgado, extremo-norte de Moçambique, confrontaram-se hoje, terça-feira, dia 9, com forças governamentais, acusando-as de balear mortalmente um “inocente”, adiantou a agência Lusa, citando diversas fontes.
As escaramuças começaram por volta das 5h00 locais (4h00 em Luanda), após a circulação de uma informação que dava conta de que um comerciante local terá sido morto pelos militares durante uma missão de patrulhamento na noite de segunda-feira, avançou à Lusa uma fonte a partir de Macomia.
“A população interrompeu a circulação nas estradas, não querem ninguém, montaram barricadas na estrada e queimar pneus e outros objectos”, declarou a fonte, acrescentando que os confrontos terão deixado, pelo menos, três óbitos.
Contactada pela Lusa, a Polícia da República de Moçambique (PRM) de Cabo Delgado admitiu que a ocorrência dos episódios, mas não confirmou os óbitos. “Confirma-se que houve uma alteração da ordem logo nas primeiras horas [do dia], mas a situação já estava controlada. Ainda não temos dados produzidos, os colegas ainda estavam no terreno a trabalhar”, declarou Aniceto Magome, porta-voz da PRM em Cabo Delgado, prometendo mais detalhes nas próximas horas.
Segundo fontes locais, os populares bloquearam o acesso à vila sede distrital de Macomia, via o distrito de Muidumbe, assim como a estrada que dá acesso ao posto administrativo de Mucojo, a 40 quilómetros da sede distrital.
Uma fonte próxima do comerciante que perdeu a vida na segunda-feira disse que o homem terá sido morto após as forças governamentais desconfiarem do seu comportamento durante a operação de patrulha.
“Os militares estavam a fazer ronda, cercaram uma casa de uma pessoa suspeita e, quando o mesmo quis fugir, balearam-na. Ele fazia negócios em Macomia, vendia roupa usada, cosméticos, telefones e produtos de pronto consumo no cruzamento de Mucojo”, declarou a fonte.
Recorde-se que a província de Cabo Delgado enfrenta, desde Outubro de 2017, uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.
O último grande ataque deu-se a 10 e 11 de Maio, à sede distrital de Macomia, com cerca de uma centena de insurgentes a saquearem a vila, provocando vários mortos e fortes combates com as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, afirmou em 16 de Junho que a acção das várias forças de defesa permitiu acabar com “praticamente todas” as bases dos grupos terroristas que operam em Cabo Delgado, que se limitam agora a “andar no mato”.