
Massacre de Wiriyamu recordado 50 anos depois
A 16 de dezembro de 1972, a aldeia de Wiriyamu, na província de Tete, no centro de Moçambique, praticamente desapareceu do mapa.
Os seus habitantes foram mortos um a um, às mãos da 6ª companhia de comandos do exército português. No total, segundo a placa de homenagem erguida no local, tombaram mortalmente mais de 450 pessoas, naquele que foi o maior massacre cometido nos três cenários da guerra colonial. Hoje, 50 anos depois, restam apenas quatro testemunhas vivas.
À Euronews Vinte Gandar relatou que ainda se lembra de como perdeu amigos e vizinhos e, mesmo assim, a população se manteve em silêncio quando questionada sobre o apoio aos “turras”, nome dado aos combatentes da Frente de Libertação de Moçambique, a FRELIMO, actualmente no poder.
“A população mantinha sempre o seu sigilo e dizia “não, nós não conhecemos.” Foi aí que começaram a matar. “Pensavam que matando um a um alguns teriam medo e iam falar a verdade, mas não aconteceu”, conta o sobrevivente.
A coragem, reconhecem os poucos que sobreviveram ao massacre, foi essencial para manter o movimento de independência.
Doquíria Gucinho também partilhou o seu testemunho: “Colocaram-nos no mesmo lugar, os homens foram para numa fila, quem tentasse fugir era morto, enquanto nós, as mulheres, estávamos sentadas. Então atiraram uma granada na nossa direcção. A minha sogra caiu, foi atingida no peito. Eu fiquei ferida na perna e cai banhada de sangue. Só à noite é que percebi que não estava morta”.
No passado dia 3 de Setembro, no âmbito da Cimeira Bilateral Portugal – Moçambique que teve lugar me Maputo, o primeiro-ministro português, António Costa, pediu desculpa a Moçambique pelo massacre de Wiriyamu, um acto “indesculpável” e “desonra a memória” do país, referiu.