Ligeira vantagem para Tinubu
Eleições presidenciais da Nigéria
Nestas eleições, os nigerianos escolhem não só um sucessor do presidente Muhammadu Buhari, de 80 anos, que se despede após dois mandatos (como exigido pela Constituição), mas também deputados e senadores.
Na noite de ontem, segunda-feira, os partidos dos dois principais candidatos da oposição à presidência da Nigéria denunciaram “manipulação”, após a divulgação, pela Comissão Nacional Eleitoral Independente (INEC, sigla em inglês), de resultados parciais que davam uma ligeira vantagem a Bola Tinubu, do partido no poder.
Mais de 87 milhões de nigerianos votaram este sábado para escolher, entre 18 candidatos, quem irá presidir aos destinos do país mais populoso de África, que tem sido atormentado por uma economia enfraquecida, por violência recorrente de grupos armados, e pelo empobrecimento generalizado da população. Nestas eleições, os nigerianos escolhem não só um sucessor do presidente Muhammadu Buhari, de 80 anos, que se despede após dois mandatos (como exigido pela Constituição), mas também deputados e senadores.
Na segunda-feira à noite, quando a INEC interrompeu a contagem para retomá-la hoje às 10h GMT, estavam disponíveis resultados oficiais em 14 dos 36 estados do país, excepto na capital federal, Abuja.
Bola Tinubu, do partido APC do presidente em exercício, liderava com mais de 3,8 milhões de votos, seguido de Atiku Abubakar, o candidato do principal PDP, na oposição, com 3 milhões. Em terceiro lugar, surgia o outsider Peter Obi, apoiado pelo Partido Trabalhista, cuja popularidade entre os jovens, que o veem como honesto e competente, é enorme, com cerca 1,6 milhões de votos.
Acusações de fraude
Estes resultados, todavia, estão longe de ser definitivos, uma vez que a grande maioria dos Estados ainda não tinha anunciado nada até hoje ao início da tarde. Estados-chave como Kano (norte), Kaduna (noroeste) e Rios (sudeste) eram ainda uma incógnita.
A votação de sábado decorreu, no geral, de uma forma pacífica, apesar de alguns incidentes e problemas logísticos. Mas atrasos na contagem, e grandes falhas na transferência electrónica dos resultados (testada pela primeira vez a nível nacional) alimentaram preocupações e acusações de fraude.
A comissão eleitoral “está comprometida”, e o partido no poder “influenciou-a a alterar os resultados”, revelou o representante da PDP, Dino Marleye, à France Press na segunda-feira à noite. Igualmente o director da campanha trabalhista, Akin Osuntokun, apelou à suspensão do anúncio dos resultados, afirmando que os resultados tinham sido manipulados.
Obi, o candidato trabalhista, surpreendeu todos na segunda-feira de manhã ao ganhar (por uma margem muito estreita) no estratégico estado de Lagos, a movimentada capital económica com 20 milhões de pessoas, e ainda um baluarte de Bola Tinubu.
O “Padrinho de Lagos”, como Tinubu é conhecido devido à sua imensa influência política na megacidade que governou de 1999 a 2007, ainda não comentou os resultados nacionais parciais, contudo já reconheceu a sua derrota em Lagos, apelando à calma após surtos de violência.
Prevê-se que o anúncio dos resultados completos ainda deverá demorar. Até agora, Bola Tinubu venceu em seis estados (Ekiti, Ondo, Kwara, Oyo, Ogun, Jigawa), enquanto Atiku Abubakar tinha ganho em cinco (Osun, Yobe, Katsina, Adamawa, Gombe) e Obi em três (Lagos, Enugu e Nasarawa).
Corrida renhida
A presente corrida presidencial é uma das mais renhidas de sempre na Nigéria. E, pela primeira vez desde o regresso à democracia em 1999, o país poderá experimentar uma segunda volta. Para ser eleito à primeira volta, o vencedor deve obter, além de uma maioria dos votos expressos, pelo menos 25% dos votos em dois terços dos 36 estados da federação, mais o território de Abuja.
Os votos de muitos estados do Norte ainda não foram contabilizados. Bola Tinubu e Atiku Abubakar, ambos muçulmanos, têm uma grande base de apoio nesta região. Peter Obi, um cristão de 61 anos, conta maioritariamente com os votos do sudeste, a sua região natal. O voto étnico é muito importante na Nigéria, que tem mais de 250 grupos étnicos, polarizados entre um norte predominantemente muçulmano e um sul predominantemente cristão.
A Nigéria, com os seus 216 milhões de habitantes, deverá tornar-se o terceiro país mais populoso do mundo até 2050, numa região da África Ocidental ameaçada por um declínio acentuado da democracia e pela propagação da violência jihadista. Face às imensas dificuldades diárias, muitos nigerianos apelam à “mudança”, revoltados por décadas de má governação dominada por elite envelhecida e corrupta.