Gana quer constituir frente unida para reparações da escravatura
Numa conferência em Acra, o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, apelou, esta terça-feira, dia 14, a uma frente unida dos líderes africanos na exigência de reparações pela escravatura transatlântica e pelos danos causados pela era colonial.
Alguns líderes ocidentais reconheceram recentemente os erros da era colonial em África e os museus começaram a devolver tesouros e artefactos africanos roubados. No entanto, o conceito de pagar reparações financeiras pelo comércio que fez de milhões de pessoas da África Ocidental e Central escravas continua a ser vago.
O chefe de Estado do Gana tem-se manifestado a favor das reparações e utilizou o seu discurso na Assembleia Geral da ONU deste ano para exigir um maior reconhecimento do impacto da exploração colonial. “Não há dinheiro que consiga reparar os danos causados pelo tráfico transatlântico de escravos e as suas consequências. Mas esta é certamente uma questão que o mundo tem de enfrentar e não pode continuar a ignorar”, afirmou Akufo-Addo, esta terça-feira, numa conferência sobre reparações com líderes africanos em Acra. “Ainda antes da conclusão destas discussões sobre reparações, todo o continente de África merece um pedido de desculpas formal das nações europeias envolvidas no comércio de escravos”, acrescentou.
Exige-se justiça
Akufo-Addo pediu a África que trabalhe em conjunto com as Caraíbas para promover as reparações, classificando-as como uma “exigência de justiça válida”.
Descrevendo a escravatura e o colonialismo como “a fase negra de África”, o Presidente das Comores e Presidente da União Africana, Azali Assoumani, afirmou que o impacto ainda “causa estragos na nossa população”.
Já este mês, o Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, em visita oficial à Tanzânia, expressou a sua “vergonha” pelos crimes cometidos durante o domínio colonial.
No início deste ano, o proprietário do jornal britânico The Guardian pediu desculpa pelo papel dos seus fundadores na escravatura transatlântica e anunciou um “programa de uma década de justiça reparadora”, na sequência de uma investigação independente.
Tesouros devolvidos
Enquanto o debate sobre as reparações pela escravatura ainda está em curso, a devolução de tesouros e artefactos roubados tem vindo a avançar.
A Nigéria está a recuperar milhares de placas de metal, esculturas e objectos dos séculos XVI a XVIII que foram saqueados do antigo Reino do Benin e que foram parar a museus e às mãos de colecionadores de arte nos Estados Unidos e na Europa. Muitos dos artefactos foram originalmente levados em 1897, quando uma expedição militar britânica atacou e destruiu a Cidade do Benin.
O Benin, inaugurou no ano passado uma exposição das suas obras de arte e tesouros devolvidos pela França após dois anos de negociações.