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Embaixador francês abandona o Níger, depois de um forte braço de ferro

O braço de ferro entre as autoridades francesas e a junta militar no poder no Níger , que durava há dois meses, chegou ao fim ontem, segunda-feira, dia 25 de Setembro. A França acabou por ser obrigada a retirar-se do país. Com o tempo, a estratégia de Paris vai-se tornando insustentável. Também os 1500 soldados franceses estacionados no Níger vão deixar o país até ao final do ano.

A partida do embaixador deverá ocorrer nos próximos dias e não nas próximas horas, como anunciou domingo à noite, o presidente francês, Emmanuel Macron. Isto porque a partida ainda está a ser objecto de negociações entre Paris e a junta. De qualquer forma, a partida de Sylvain Itté tornou-se inevitável, dada a pressão exercida nos últimos dias pelos militares do Níger, que exigiam a sua expulsão.

Privado da sua imunidade diplomática desde 29 de Agosto, o embaixador vivia recluso na residência francesa, que estava praticamente bloqueada há quase um mês. Não era permitida a entrada de alimentos e os veículos eram sistematicamente revistados. A 5 de setembro, os embaixadores da União Europeia e de Espanha foram proibidos de entrar. As medidas de intimidação continuam a multiplicar-se.

Recentemente, o acesso à Internet foi cortado. E cinco carrinhas equipadas com metralhadoras estiveram estacionadas durante uma noite, em frente à embaixada gaulesa. Consequentemente, a situação “começou a tornar-se muito difícil” do ponto de vista da segurança, como explicou esta manhã a comitiva do Presidente francês.

Efectivamente, Emmanuel Macron teve de enfrentar os factos. Já não era possível a Sylvain Itté permanecer em Niamey. Segundo a RFI, o Presidente francês telefonou ontem à tarde a Mohamed Bazoum [presidente deposto] para o informar da sua partida. O Palácio do Eliseu garante-nos que “esta partida não é uma demissão”. Continuaremos a trabalhar para a sua libertação.”

Há dois meses que Mohamed Bazoum se encontra detido na residência presidencial com a mulher e um dos filhos. Segundo várias fontes que lhe são próximas, o seu estado de espírito é elevado, apesar de as suas condições de vida serem difíceis: eletricidade cortada, alimentos frescos apenas uma vez por semana, etc. As mesmas fontes afirmam que Mohamed Bazoum esteve em contacto com o embaixador francês antes destas declarações e que não se sente desiludido com a posição do Presidente francês, que continua a não reconhecer a autoridade do CNSP. Segundo Omar Moussa, seu chefe de gabinete adjunto, o seu estado de espírito continua o mesmo: Mohamed Bazoum não tenciona assinar a sua demissão.

Vários países e organizações, entre os quais a CEDEAO, a França e os Estados Unidos, continuam a pedir a sua libertação e o regresso à ordem constitucional. Por seu lado, o CNSP tinha anunciado, em meados de Agosto, a intenção de o processar por alta traição e atentado à segurança do Estado. Cerca de vinte pessoas próximas do Presidente são actualmente procuradas por Niamey.

Pouco depois do anúncio do Presidente francês, o CNSP congratulou-se com o “novo passo em direção à soberania do Níger”, “um momento histórico que testemunha a determinação e a vontade do povo do Níger”.

Por seu turno, o coordenador nacional do M62, um movimento que luta contra a presença francesa no Níger, também considerou este facto como uma vitória para o povo do Níger. Para Abdoulaye Seydou, não deve haver mais relações diplomáticas entre Paris e Niamey: “É uma vitória temporária. Só reivindicamos a vitória quando o último soldado francês tiver deixado o nosso território. A França colocou-se numa situação em que é vítima da sua própria política. Infelizmente, Macron manchou a

imagem da França. Apreciamos os valores encarnados pelo povo francês. Não temos qualquer problema com o povo francês. Precisamos de terminar as relações diplomáticas até que haja autoridades capazes de ouvir outros países e de nos tratar como iguais.”

Ibrahim Namaywa, membro do Movimento para a Promoção da Cidadania Responsável, também manifestou a sua “satisfação”. “Não cabe a Emmanuel Macron dizer quem é legítimo à frente do nosso país, ao ponto de se recusar a obedecer à decisão das nossas autoridades”, disse. “Estamos mobilizados e vamos continuar a redobrar os nossos esforços.”

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