
“É preciso procurar recursos internos”, defende responsável do FMI em relação à África Subsariana
As economias da África Subsaariana devem esforçar-se para aumentar a cobrança de receitas internas para evitarem a contracção de dívidas num contexto de “condições globais turbulentas”, defendeu o director do Fundo Monetário Internacional (FMI) para África, Abebe Aemro Selassie, em entrevista à agência Reuters.
A economia da região deverá expandir-se 3,8% este ano, de acordo com o FMI no seu último relatório de Perspectivas Económicas Mundiais, o que representa um corte em relação à sua previsão anterior de 4,2%, devido ao potencial impacto da posição da administração dos Estados Unidos da América (EUA) sobre o comércio.
“Há um período em que talvez depender do financiamento da dívida não seja a maneira certa de fazer o desenvolvimento. Os formuladores de políticas também precisam de identificar novas fontes de capital mais barato”, afirmou o director.
Os investidores venderam activos de risco depois que o Presidente Donald Trump anunciou tarifas abrangentes sobre dezenas de parceiros comerciais dos EUA, elevando os rendimentos da maioria dos emissores na África Subsaariana para dois dígitos, um sinal de que as chamadas economias de fronteira podem ter dificuldade para aceder aos mercados de capitais.
“É preciso procurar recursos internos para fazer face às necessidades de desenvolvimento e de despesas sociais”, afirmou o representante, acrescentando que “estas políticas, que visam aumentar a resiliência têm um prémio mais elevado.”
Rácio médio entre dívida e o produto económico e estável
O rácio médio entre a dívida e o produto económico na região manteve-se estável no ano passado, em menos de 60% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o FMI, mas algumas economias, como o Quénia, têm-se debatido com elevados custos de serviço da dívida.
“Embora os EUA não sejam um parceiro comercial importante para muitas economias da região Subsaariana, as repercussões da sua abordagem ao comércio internacional estão também a exercer pressão sobre as taxas de câmbio das economias”, destacou o responsável do FMI.
“Já assistimos à descida dos preços do petróleo. Países como a Nigéria e Angola vão assistir a uma redução da actividade económica e são algumas das maiores economias da África Subsaariana”, frisou.
O FMI salientou ainda que o recuo previsto pode interromper uma “recuperação económica difícil” da pandemia global, um aumento da inflação a nível mundial e uma subida das taxas de juro que, na prática, impediu muitas economias africanas de acederem aos mercados de capitais estrangeiros.
Entretanto, o crescimento na África Subsaariana, que alberga um vasto leque de economias, incluindo as bastante diversificadas como a da Tanzânia e do Senegal, atingiu 4% no ano passado, ultrapassando a previsão do FMI de 3,6%, de acordo a instituição.
A forte expansão económica do ano passado na região foi acompanhada por uma melhoria dos desequilíbrios macroeconómicos, segundo o Fundo, citando uma inflação média mais baixa e níveis de dívida estáveis. “Assistimos a uma grande resiliência na região”, afirmou Abebe, acrescentando que “11 das 20 economias de crescimento mais rápido do mundo se situam na África Subsariana.”