
Diferentes posições sobre o alargamento dos Brics vão dominar cimeira na África do Sul
Quando amanhã, terça-feira, dia 22 de Agosto, os líderes dos Brics se sentarem à mesa na capital económica da África do Sul, Joanesburgo, as discussões serão dominadas pelo tema do alargamento do grupo a vários países que já se perfilaram.
A China e a Rússia são os principais entusiastas da expansão do bloco. De acordo com observadores estes dois países gostariam mesmo de anunciar formalmente a expansão já durante o encontro de Joanesburgo.
A ampliação do bloco não é nenhuma novidade. Há anos que vem sendo discutida, mas, recentemente, conheceu uma nova dinâmica por conta da rivalidade geopolítica cada vez mais acesa entre a China e os Estados Unidos, as duas maiores economias do mundo, e pelo isolamento da Rússia em virtude da invasão da Ucrânia.
Os chineses pretendem servir-se do grupo como plataforma para projectar a sua influência no mundo, por isso, quanto maior, melhor. Os Brics constituem também uma alternativa às organizações globais que o Império do Meio considera dominadas pelo Ocidente, como a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM) e outros órgãos multilaterais.
No caso da isolada Rússia, Putin aposta em qualquer iniciativa que possa ampliar o número de amigos em qualquer parte do mundo.
Certo, certo é que o interesse em aderir ao bloco foi confirmado oficialmente por 22 países. Entre eles, estão várias ditaduras, algumas delas párias, como a Bielorrússia, a Venezuela, mas também Cuba, o Irão, o Vietname e a Arábia Saudita.
As divergências
Os outros três países dos Brics, África do Sul, Brasil e Índia, no entanto, têm posições diferentes sobre a questão. O gigante sul-americano quer definir critérios muito claros para determinar que países poderiam ingressar no bloco, e em que momento. “Há mais de 20 candidatos, no mínimo, precisamos organizar o fluxo de entrada deles”, referiu um alto diplomata brasileiro citado pela CNN. Um dos critérios defendidos pelo Brasil seria o compromisso de qualquer candidato defender uma reforma ampla do sistema de governação global, especialmente a ONU e o seu Conselho de Segurança. O presidente Lula já defendeu várias vezes a necessidade dessa reforma e quer que o Brasil tenha um assento permanente no Conselho de Segurança.
Entrada via NBD
Outro critério pode ser a adesão dos países, inicialmente, via Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também chamado banco dos Brics. Com mais membros, a instituição teria mais recursos para financiar obras nos países-membros. A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos são dois dos candidatos a ingressar imediatamente no banco.
Impactos da expansão
Brasília não é necessariamente contra a expansão, mas a diplomacia brasileira sabe que não interessa ao país uma ampliação repentina e sem controlo do grupo. Este facto poderia levar à diluição da importância e peso do Brasil na organização, que, por princípio, não é um bloco coeso, mas sim uma agremiação que tem interesses muito díspares em várias questões globais. A adesão de muitos países próximos da China, por exemplo, aumentaria ainda mais o peso de Pequim no grupo e poderia criar problemas para o Brasil, que tem uma tradição de diálogo com o mundo todo e de proximidade com
o Ocidente. A insistência do Brasil na definição dos critérios de adesão pode adiar qualquer anúncio de expansão, o que poderia cair mal à China e à Rússia.
Subgrupo
Contudo, os diplomatas brasileiros não descartam, por exemplo, a possibilidade de criação de um subgrupo dentro dos Brics, com o anúncio de países associados. O Mercosul, por exemplo, adoptou este modelo e tem sete países associados. Uma proposta deste tipo poderia resolver o impasse na cúpula da África do Sul. A Índia até há pouco tempo também apresentava grandes restrições à integração de novos membros no clube dos Brics, em parte devido à sua rivalidade com a China. Todavia, nas vésperas da cimeira, a sua diplomacia emitiu uma nota afirmando que via com bons olhos um alargamento, desde que os seus interesses nacionais fossem salvaguardados. Nos bastidores, comenta-se que os indianos resolveram aceitar a expansão num aceno ao governo ditatorial da Arábia Saudita.
A anfitriã África do Sul tende a ser mais próxima da China e gostaria que vários outros países africanos aderissem ao grupo. O governo de Cyril Ramaphosa, inclusive, convidou todos os chefes de Estado do continente a participarem em certas partes na cimeira.
As negociações continuam, mas uma decisão sobre que rumo tomar em relação à expansão só será conhecida depois de um encontro privado entre os líderes dos cinco países, na noite do dia 22 de Agosto.
Os cinco países estarão representados ao mais alto nível excepto a Rússia, uma vez que Vladimir Putin, corria o risco de ser preso, devido ao mandado de captura emitido contra ele pelo Tribunal Pena Internacional (TPI) do qual a África do Sul é signatária. Sendo assim, a Rússia estará representada pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Evgeny Lavrov.