
Deputada municipal da Frelimo encontrada morta pouco depois de ter tomado posse
Foi vista pela última vez no próprio dia em que tomou posse do seu cargo na assembleia municipal de Quelimane, capital da província da Zambézia, no Centro de Moçambique. Na madrugada deste sábado, o corpo de Celeste Mucunha foi encontrado com sinais visíveis de agressão e parcialmente carbonizado.
A notícia foi avançada à agência Lusa pelo chefe de relações públicas do Comando Provincial da Polícia de Moçambique na Zambézia, Miguel Caetano. O corpo da deputada da Frelimo foi encontrado em Nicoadala, a cerca de 15 quilómetros do centro de Quelimane.
“Parte do corpo foi encontrado carbonizado, mas, a outra parte, ainda visível, apresentava sinais de agressão, o que nos leva a concluir que, antes de ser queimada, ela foi agredida”, explicou Miguel Caetano, acrescentando que as autoridades estão a envidar esforços para esclarecer o caso.
Quelimane é um dos quatro municípios nas mãos da Renamo, o principal partido da oposição. Após as eleições de 11 de Outubro, os resultados foram muito contestado pela oposição pelos evidentes sinais de fraude.
Numa primeira decisão, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) moçambicana atribuiu a vitória em Quelimane à Frelimo, mas o resultado seria revertido pelo Conselho Constitucional, a mais alta instância judicial eleitoral. Um resultado que geraria um movimento forte de protesto na cidade, tal como se verificou em muitos outros municípios do país, incluindo a capital, Maputo, e a sua cidade satélite da Matola, onde a Renamo também diz que venceu, mas cuja vitória foi atribuída à Frelimo.
Quelimane já estava antes nas mãos da Renamo e de Manuel de Araújo, que foi reconduzido no cargo de presidente do município. Na quarta-feira, na tomada de posse, não se esqueceu disso, citado pela DW: “Hoje é dia de festa porque vocês tiveram a coragem de desafiar o sistema. A CNE tinha roubado as eleições.”
O Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD), uma das mais importantes organizações da sociedade civil moçambicana, escrevia no seu boletim de quarta-feira que este “é um escrutínio que entrou para a história como o mais fraudulento desde a votação instaladora da democracia em 1994”.
O CDD lembra que a contagem paralela da Renamo deu a vitória do partido em pelo menos 18 municípios e a CNE não lhe atribuiu nenhum, concedendo apenas que a cidade da Beira continuava nas mãos do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), o terceiro maior partido. A “luta contestatária nas ruas das principais cidades do país” levou o Conselho Constitucional a alterar os resultados “sem qualquer fundamentação”, atribuindo a vitória da Renamo em Quelimane, Chiúre, Alto Molócuè e Vilanculos.