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Depósitos a prazo a mais de um ano já estão a pagar acima da inflação

No que toca a curto prazo, os bancos estão hoje a oferecer melhor remuneração do que os títulos de dívida pública. Para isso estão finalmente a concorrer pelos depósitos dos clientes bancários. Especialistas duvidam dos números da inflação, apesar de saudarem a remuneração acima desta ao fim de 18 anos.

Desde 2005 que a taxa de juros média paga pela banca para depósitos a prazo a mais de um ano não estava acima da taxa de inflação homóloga, posicionando-se até acima da remuneração que o Estado paga por aplicações Bilhetes de Tesouro, a dívida titulada com as maturidades de curto prazo, de acordo com o que o semanário Expansão apurou, com base nas estatísticas monetárias e financeiras do BNA.

Em Junho os bancos estavam a pagar pelos depósitos a prazo uma taxa média anual de 13,40%, ligeiramente superior à taxa de inflação homóloga registada naquele mês, de 12,12%. Em relação aos Bilhetes de Tesouro, as emissões desta divida titulada com maturidades de até 365 dias feitas este ano garantiram uma rentabilidade de 12,15% o que nesta altura a coloca próximo de uma taxa negativa já que está próxima da inflação que tem estado a subir nos últimos meses.

Isto porque dentro da estratégia do Governo, o objectivo é diminuir o stock de títulos de curta duração porque pretende aumentar a de médio e longo prazo de forma a garantir a sustentabilidade da dívida. Assim, acaba por remunerar melhor as Obrigações do Tesouro Não Reajustáveis (OTNR), que garantem um retorno superior às de curto prazo, ainda que a banca torça sistematicamente o nariz a esta estratégia.

O facto de os bancos estarem a remunerar melhor os depósitos a prazo, significa que as instituições bancárias mudaram de estratégia e estão hoje a competir pelos depósitos dos clientes bancários, mas também com o próprio Estado em busca de liquidez. “É normal, que no caso do BNA ter apertado a liquidez da banca, os bancos tenham começado a competir por depósitos”, admite uma fonte do sector ao Expansão.

Mas a “mosca na sopa” é que os especialistas não acreditam nos dados da inflação oficial já que tudo o que se consome em angola teve um aumento próximo ou superior a 100% só nos últimos quatro meses, o que coincide com uma desvalorização cambial à volta de 40% face às principais moedas estrangeiras bem como com a subida dos preços da gasolina em 87,5% (a partir de Junho). Exemplificam o preço de produtos da cesta básica como arroz, óleo, frango e carnes, que tiveram aumentos iguais ou superiores a 100%, mas os dados do INE apenas apontam uma subida dos preços entre 2 a 3 pontos percentuais no período em causa.

“As taxas de juro nominais passivas (depósitos a prazo de maturidade superior a um ano) apresentam o valor mais elevado dos últimos 6 anos. Tal está em linha com políticas do BNA de contracção da liquidez, que elevou as taxas LUIBOR e estabilizou o câmbio no último mês. Assim, reflectem uma remuneração superior que a perda de poder de compra no ano anterior. No entanto, é necessário observar que os números do INE não parecem reflectir a subida do preço da gasolina em mais de 80% e do dólar 66% (face ao Kwanza) nos últimos dois meses”, defende um especialista sob anonimato.

Assim, apesar de saudarem o facto de pela primeira vez em muitos anos a banca estar a remunerar os depósitos acima da inflação, considerando que seria um grande marco da economia angolana, e um sinal de que a taxa directora do BNA começa a ser “mesmo uma taxa directora”, que influencia todas as outras (Luibor e taxas de juro dos bancos). Desta forma, os depósitos deixam de ter uma espécie de taxa negativa, já que o retorno da aplicação de poupanças nestes depósitos acabava por ser “comido” pela inflação.

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