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Combate à seca no Sul do país conta com tecnologia espacial

O programa do Executivo para mitigar o impacto da seca no país vai contar com o suporte de um projecto de tecnologia espacial, denominado “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”.

O projecto, lançado quinta-feira, em Luanda, pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), é em parceria com o Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN) e o Massachusetts Institute of Technology (MIT) dos EUA.

Com um prazo de execução de três anos, o projecto é encabeçado pela investigadora norte-americana e directora do Space Enabled Research Group, MIT Media Lab, Danielle Wood, conta com um suporte financeiro da Agência Espacial Norte-americana (NASA), avaliado em 550 mil dólares.

Para o secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Pascoal Borges Fernandes, a importância do projecto resume-se na plataforma de recolha, organização e partilha de informação, voltada à mitigação dos efeitos derivados da ocorrência de situações de seca, que têm afectado, há várias décadas, milhares de cidadãos.

Ao discursar na cerimónia de lançamento, testemunhada por representantes da Embaixada dos EUA e do Governo do Cunene, Pascoal Fernandes ressaltou a relevância do projecto, enquanto fonte de informação para o apoio à tomada de decisões do Executivo, sobre as políticas a curto, médio e longo prazo, tendo em vista o fenómeno.

“É uma iniciativa do sector das TIC, que visa mitigar e reduzir, significativamente, o impacto sobre as populações resultantes de situações de seca”, sublinhou o secretário de Estado, para em seguida destacar o conjunto de acções, projectos e programas desenvolvidos pelo Executivo.

Referiu-se, a título de exemplo, do Canal do Cafu, na província do Cunene, como uma acção que “engajou e tem engajado” agricultores e criadores de gado, desagravando os problemas sociais enfrentados pelas populações, sobretudo, em 2019.

Pascoal Borges Fernandes esclareceu, por outro lado, que o lançamento do projecto “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”, pelo MINTTICS, numa acção directa do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN) e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), pelo Space Enable Research Group do MIT Media Lab, sucedeu à apresentação, em formato piloto, do “Projecto de quantificação da problemática da seca no Sul de Angola”, alinhado com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a acção contra a mudança global do clima.

Dentre os grandes benefícios do projecto, acrescentou, o fornecimento regular e sistemático de dados ao Executivo, sobre o estado dos recursos hídricos, a localização dos assentamentos populacionais mais vulneráveis aos efeitos da seca no Sul do país e a identificação dos locais ideais de implementação dos projectos estruturantes.

Um dos grandes desafios do país, com a apresentação deste projecto, segundo ainda o secretário de Estado, prende-se em devolver o sentimento de tranquilidade às populações residentes nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe, que enfrentam períodos cíclicos de seca há várias décadas, com realce para a crise de 2019, a pior dos últimos 40 anos.

Em consequência da seca, sublinhou, mais de um milhão e trezentos indivíduos foram afectados, com perdas financeiras, enaltecendo o facto de “iniciativas criativas e ousadas”, como a do projecto em referência estar a ajudar a Nação angolana a posicionar-se entre os países emergentes na área espacial mundial em África.

Assegurou que o país está entre os que mais avanços fez no sector Espacial, tendo realçado a importância do Angosat-2 no crescimento exponencial de especialistas nacionais em Engenharia Espacial.

  Cunene saúda a iniciativa

O director do Gabinete das Infraestruturas do Governo da Província do Cunene saudou a iniciativa do Executivo em lançar o projecto de combate aos efeitos provocados pela seca no Sul do país.

Édio Gentil disse estar optimista nos resultados a serem produzidos pelo “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”, tendo justificado que o projecto vai permitir gerir as informações oportunas, bem como obter uma melhor noção do volume de investimento financeiro para colmatar a situação.

“É uma iniciativa muito louvável, por parte do Ministério”, reconheceu, tendo esclarecido que o Governo Central, por via do combate aos efeitos da seca, implementou o processo de transferência de caudais a partir do Rio Cunene.

Anunciou, ainda, estar em curso o projecto das barragens de Ndua e Calucuve que, sublinhou, vai “mitigar o impacto quer das secas, quer das cheias”, pelo que apelou ao aproveitamento destes investimentos, para o país “conseguir digerir a abundante água em período de cheias e libertá-la na fase das secas”.

  Investigadora norte-americana garante soluções a longo prazo

A investigadora norte-americana Danielle Wood afirmou estarem criadas todas as condições, com o lançamento do projecto, para que o país encontre as soluções para os problemas de seca.

De acordo com a principal investigadora do projecto, pelos Estados Unidos da América (EUA), o objectivo é trabalhar com as instituições angolanas engajadas no combate ao fenómeno, no sentido de identificar-se os problemas em todas as regiões do país.

“Estamos na fase inicial do projecto e, em colaboração com a equipa de gestão do programa espacial, onde vamos fazer a recolha de dados em várias partes de Angola”, esclareceu a norte-americana, sublinhando que, para as investigações, serão utilizados três satélites da NASA.

“Vamos obter os dados para resolvermos a questão da seca no Sul de Angola. Podemos, também, por intermédio deste mesmo satélite, detectar enchentes em diferentes zonas do país”, acrescentou.

Apesar de referir que nesta fase inicial do projecto não será necessário recorrer aos dados provenientes do satélite angolano Angosat-2, Danielle Wood assegurou que todo o trabalho a ser realizado contará com a colaboração directa do Gabinete de Gestão de Programa Espacial Nacional (GGPEN).

Os grandes desafios do programa, disse, prendem-se em reunir e organizar as informações que estão nos EUA e em Angola, no sentido de poder dar resposta à questão da seca cíclica no país, tendo ressaltado a possibilidade de o Governo levar em consideração, fruto do mesmo projecto, aspectos de gestão de infra-estruturas e de zonas com problemas de produção de alimentos.

Danielle Wood esclareceu que, durante os próximos três anos – período estipulado de duração do projecto -, vai trabalhar de forma virtual, numa experiência semelhante às investigações efectuadas na fase da pandemia Covid-19, em que diz ter operado com muitas organizações internacionais.

A norte-americana lidera o grupo de pesquisa que utiliza satélites para resolver problemas complexos na terra, projectando sistemas inovadores que aproveitam a tecnologia espacial.

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