Bienos recordam Agostinho Neto como um político firme e humanista convicto
Entidades políticas e da sociedade civil continuam a render homenagens de reconhecimento aos feitos do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, numa altura em que se assinalou, a 17 de Setembro, o 101º aniversário natalício do Fundador da Nação, falecido a 10 de Setembro de 1979, em Moscovo (Rússia).
A este propósito, o escritor Álvaro Alves descreveu a passagem de Agostinho Neto em 1943, na altura funcionário administrativo do Hospital Indígena, no Bié, actualmente Hospital Provincial. O estadista viveu no bairro Catraio durante mais de 11 meses, cuja rua é hoje chamada avenida Sagrada Esperança.
O estudioso de obras de Neto referiu que, por essa altura, o primeiro Presidente de Angola desenvolvia trabalhos administrativos, e que depois de ter estado no Cuito foi para Malanje e só mais tarde ganhou a bolsa para se formar em Medicina em Portugal.
Álvaro Alves aclarou que Agostinho Neto não trabalhou como médico na província do Bié, apenas como funcionário administrativo do Hospital Indígena. “Nessa altura, viveu aqui sozinho no bairro Catraio, nas proximidades do rio Catemo, que delimita o bairro Catemo com o Catraio, um local que o Governo Provincial e o Ministério da Cultura em Janeiro de 2012 entenderam erguer uma casa para homenageá-lo e sinalizar para a história que o Fundador da Nação viveu na circunscrição”, lembrou.
Em declarações ao Jornal de Angola, o escritor acrescentou que foi num edifício, hoje denominado Centro Cultural Dr. António Agostinho Neto, onde os jovens podem reviver a história, tomando contacto com este passado dos angolanos e que a informação sobre os feitos de Agostinho Neto pode ser encontrada a partir daquele espaço e ser disseminada para as gerações vindouras.
Das memórias partilhadas, Álvaro Alves disse que em 2013, enquanto director da Cultura, encabeçou uma investigação sobre a presença de Agostinho Neto no Bié e procuraram-se testemunhos, embora tenha sido muito difícil encontrar gente da época. Referiu que os poucos relataram os valores transmitidos por Neto, designadamente o princípio da lealdade e do bom atendimento aos angolanos que acorriam a ele no hospital e estes guardam boas lembranças para as futuras gerações.
Para Baptista Canolossi Jambela Albino, administrador municipal do Cuemba, os feitos de Neto são imensuráveis. “Somos fruto de seus feitos como Fundador da Nação e percursor da liberdade do país, por ter proclamado a Independência. Fruto disso, vemos um país em desenvolvimento, liberdade e a construir o bem-estar social que continua a ser o objectivo principal a alcançar, para cumprirmos o legado de resolver os problemas do povo”.
Já a vice-governadora da província do Bié, Alcida Camatele Sandumbo, sublinhou a importância da jornada dedicada ao Herói Nacional, simbolizado pelo calor, entrega, trabalho e abnegação de António Agostinho Neto. Destacou o facto da província do Bié ter sido escolhida para albergar o acto central, alusivo ao 101º aniversário natalício do primeiro Presidente de Angola.
“É sinónimo de que estamos a vivenciar o slogan de Agostinho Neto, quando dizia ‘de Cabinda ao Cunene, do Mar ao Leste somos todos um só povo e uma só Nação. O Bié está de parabéns por este facto. Os jovens têm muito que beber da figura de Neto como poeta, professor, alfabetizador, médico e político, para que possam caminhar com os seus ensinamentos”, disse Alcida Sandumbo.
A vice-governadora falou, também, da necessidade de os jovens buscarem os passos dos mais velhos para desenvolverem o país. “Os jovens devem saber que um dos legados que devemos tirar de Neto é que de Cabinda ao Cunene somos um só povo e uma só Nação, independentemente da cor partidária, confissão religiosa, naturalidade. Somos todos angolanos e pressupõe, com este slogan, dizer que devemos caminhar juntos para edificarmos Angola”.
Para o músico Manuel Mendes, que interpretou um dos poemas de Neto sobre a nascente do rio Kwanza, a eternização da figura do primeiro Presidente é imprescindível, “por ser o poeta maior e herói nacional, aquele que proclamou a Independência, fazendo valer os esforços dos que começaram a luta pela liberdade”.
Manuel Mendes explicou que a personalidade de Agostinho Neto é a mais alta representação do sentimento patriótico, uma insígnia para a preservação da identidade dos angolanos, conservação da cultura e, acima de tudo, os quereres do povo.
“E, musicalmente, oferece todo este sentimento de patriotismo, a visão de termos uma Angola melhor para se viver. Como jovens, devemos honrar os seus feitos, cuidando da pátria, emancipar-nos cada vez mais, estudando para construirmos Angola e fazer com que o universo conheça a Angola linda”, acrescentou o artista.
O ex-deputado à Assembleia Nacional Joaquim Wanga, por seu turno, afirmou que o Fundador da Nação tem os registos inapagáveis. “Nós os políticos inspiramo-nos nele, sobretudo quando dizia que na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul estava a continuação da nossa luta e isso deu certo”, contou o antigo parlamentar.
O político enfatizou que é necessário que os jovens estudem mais sobre Agostinho Neto, pois é preciso chegar à profundidade do seu pensamento, quando se referia à agricultura como a base e a indústria como factor decisivo, justificando que estes dois elementos sozinhos não tornam possível o desenvolvimento do país, por ser fundamental juntar a eles o comércio, as vias de comunicação e os transportes.
“Agostinho Neto deixou-nos tarefas que nos guiarão até que o país consiga tocar na escala mais alta de desenvolvimento, porque durante a sua vida se entregou de corpo e alma para libertar o país e isso foi concretizado. Ficamos pela tarefa mais larga, que é o desenvolvimento de Angola”, disse.
Segundo o ex-deputado, é necessário que se façam manuais para as escolas, para que as crianças aprendam desde muito cedo sobre Neto, porque só os encontros, as reuniões não serão suficientes para que a juventude entenda com profundidade aquilo que o primeiro Presidente de Angola queria que se fizesse.
“Lembro-me que, na década de 80, havia manuais que falavam sobre os feitos de Agostinho Neto, embora com alguma leveza. Penso que se poderia retomar para que todos e, sobretudo, a juventude – que é a força motriz da sociedade – consiga entender a importância daquilo que foi a figura de Neto”, insistiu Joaquim Wanga.
O político reafirmou que o acto central das comemorações dos 101 anos de António Agostinho Neto, realizado na província do Bié, ficou na memória da população local, que jamais se esquecerá deste filho de Angola.
“Viveu nesta parcela do país, trabalhou na área da Saúde e para a Igreja. Rezava na Igreja de Camundongo, porque, naquela altura, não havia aqui a Igreja Metodista, onde fazia o trajecto de bicicleta, indo à igreja para pedir e agradecer ao Criador que o ajudasse na concretização das suas ambições para o país”, concluiu Joaquim Wanga.