BFA prevê reversão da depreciação do Kwanza
O BFA prevê, como cenário de uma análise de conjuntura na última quarta-feira, que a taxa de câmbio reverte a tendência para as perdas observadas em Maio e Junho deste ano, impulsionando um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não petrolífero de 2,00%, este ano.
Esse é um dos dois cenários, traçados em Nota Informativa, uma publicação periódica em que o banco divulga projecções sobre a evolução da economia nacional, um documento em que considera que, de ter depreciado de forma acelerada, em Maio e Junho, a taxa de câmbio do kwanza parece mais estável agora, apesar de as condições do mercado cambial permanecerem severas.
O banco atribui parcialmente a evolução do câmbio ocorrida em Maio e Junho a uma aprovação tardia do OGE 2023, a qual culminou com um atraso na divulgação do Plano Anual de Endividamento (PAE), com impacto na capacidade de financiamento externo do Estado até perto do segundo trimestre 2023.
Segundo o documento, “em cálculos feitos para medir a pressão da Tesouraria do Estado, os resultados preliminares apontam para défices simultâneos em moeda externa e moeda nacional no primeiro trimestre de 2023”, algo confirmado por um boletim divulgado em Março pela Unidade de Gestão da Dívida (UGD).
Nesse documento, o UGD apresenta desembolsos externos avaliados em 350 milhões de dólares, diante de um serviço da dívida de 2,5 mil milhões, um défice ou endividamento externo líquido (desembolsos menos serviço da dívida) negativo de 2,1 mil milhões até Março.
O montante total amortizado até Março representa 61% do previsto no PAE para aquela data, enquanto os montantes desembolsados representam apenas 17% do previsto para o primeiro trimestre de 2023.
Ligando esse facto à deterioração das receitas de exportação (que o banco prevê que venham a cair em 27% este ano) o resultado terá contribuído para a ausência do Tesouro no mercado cambial.
Mas, ressalva o documento, “é possível que, caso o PAE venha a ser cumprido na íntegra, em particular no que toca a desembolsos externos que estavam previstos, o cenário será reverso no segundo semestre, com o endividamento externo líquido muito positivo”.
A fonte nota que há acordos firmados cujos desembolsos deverão ocorrer apenas no segundo semestre (em particular com o Banco Mundial) e outros acordos que estão previstos, mas ainda não firmados.
“Num cenário em que o PAE seja cumprido a nível de dívida externa, o Ministério das Finanças, seguramente, terá folga que o permita voltar a participar da venda de divisas”, o que pode ser potenciado por um preço do petróleo a um nível muito mais favorável”, escrevem os analistas do BFA.
Nessa acepção, numa evolução em que o kwanza revertesse substancialmente parte do movimento de perda, as pressões inflacionárias seriam aliviadas e a inflação ficaria mais perto da meta definida pelo BNA, entre os 11 e 14%, com o banco central a aligeirar a actual postura restritiva e a aliviar a política monetária.
Isso, resultaria num aumento do consumo com impactos positivos para a actividade económica não-petrolífera, obtendo-se, ao contrário da contracção do PIB não petrolífero, um crescimento anual modesto de 2,00%, com ganhos sobre o emprego, com particular realce para o sector formal, com uma estagnação do PIB global em torno de 0,1 e 0,3 pontos percentuais.
Cenário mais provável
Esse é o menos provável dos dois cenários estabelecidos pelo BFA para a evolução da economia nacional, este ano, com o primeiro a prever que o câmbio fique perto do nível actual ou corrija muito ligeiramente.
“Ainda que o movimento estabilize, a depreciação já ocorrida continuará a impactar os preços”, lê-se no documento, onde são citados dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) a indicarem a aceleração da inflação em Junho e em Julho, para 1,41 e 1,61%, respectivamente, para atingir uma taxa anual acumulada em 20%, caso não haja uma reacção forte da política monetária e também alguma recuperação do Kwanza.
O documento relacionada a depreciação do kwanza à remoção parcial dos subsídios aos combustíveis, reflectindo-se no aumento dos preços dos bens importados e dos bens em geral aumentaram, na queda do poder de compra.
A análise considera uma produção petrolífera mais robusta, no quadro de uma tendência iniciada em Julho, quando chegou a 1,17 milhões de barris por dia, mas insuficiente para compensar a queda de 6,7% ocorrida no primeiro semestre e um crescimento mais lento do sector não petrolífero no segundo trimestre, devido, em parte ao efeito da crise cambial.
A associação desses factores, conclui, resulta na previsão de uma contracção de PIB deste ano de 1,00 a -1,04%.