Banco Mundial prevê um “abrandamento acentuado e duradouro” do crescimento económico
O crescimento global irá abrandar “perigosamente” aproximando-se da recessão, revelaram fontes do Banco Mundial (BM) esta terça-feira, dia 10, refreando as suas previsões económicas que havia feito para 2023. Assistir-se-á a uma inflação elevada e a um aumento das taxas de juro, devendo-se tais indicadores à invasão da Ucrânia pela Rússia.
A última previsão do Banco Mundial aponta para um “abrandamento acentuado e duradouro”, com uma taxa de crescimento de 1,7% para 2023, cerca de metade do ritmo previsto em Junho último, de acordo com o último relatório Global Economic Prospects desta instituição.
Esta é uma das taxas mais fracas em quase três décadas, ensombrada apenas pela desaceleração motivada pela pandemia de 2020 e pela crise financeira global de 2009.
“Dadas as frágeis condições económicas, qualquer novo desenvolvimento adverso pode conduzir a economia global a uma recessão”, adiantou um especialista em desenvolvimento sediado em Washington, EUA. Entre estes incluem-se: uma inflação mais elevada do que o esperado, picos repentinos nas taxas de juro para conter os aumentos de preços ou um ressurgimento pandémico.
O Presidente do Banco Mundial, David Malpass, revelou-se “profundamente preocupado” com a possível persistência da desaceleração.
Nos Estados Unidos, o crescimento irá provavelmente abrandar para 0,5% em 2023, muito abaixo das previsões anteriores, enquanto a zona do Euro deverá estabilizar à medida que as perturbações no fornecimento de energia e as subidas de preços relacionadas com a invasão da Rússia, forem sendo ultrapassadas.
A China deverá crescer 4,3% este ano, 0,9 pontos abaixo das expectativas anteriores, em parte devido às interrupções pandémicas persistentes e à fraqueza do sector imobiliário.
“A perspectiva é particularmente desanimadora para muitas das economias mais pobres, onde a redução da pobreza já parou”, disse Malpass.
“Os países emergentes e em desenvolvimento enfrentam um período plurianual de crescimento lento, impulsionado por pesados encargos da dívida e fraco investimento”, acrescentou Malpass.
Embora o Banco Mundial tenha insistido num processo mais rápido de reestruturação da dívida, “os progressos continuam estagnados”, disse Malpass.
Todavia, o abrandamento generalizado e o fraco crescimento ainda não constituirão uma recessão, referiu Ayhan Kose, chefe da unidade de previsão do banco. “A curto prazo, o Banco Mundial está atento à possibilidade de stress financeiro, se as taxas de juro subirem mais a nível global. Se isto acontecer e a inflação se mantiver persistente, poderá desencadear uma recessão mundial”, acrescentou. Advertiu ainda que “se as condições de financiamento se tornarem mais apertadas, provavelmente haverá mais crises de dívida este ano.”
Com o intuito de combater a inflacção, os bancos centrais, incluindo a Reserva Federal dos EUA, têm vindo, no último ano, a subir as taxas de juro, mas a crise economia está “a aprofundar-se” à medida que as políticas entram em vigor, disse o Banco Mundial.
“Os três principais motores do crescimento mundial – os Estados Unidos, a zona Euro e a China – estão a atravessar um período de fraqueza pronunciada, com repercussões adversas para as economias de mercado emergentes e em desenvolvimento”, acrescentou o banco.
Por enquanto, a inflação subiu, impulsionada pelo apoio da era pandémica, pelos choques de oferta e, em alguns casos, pelas depreciações da moeda em relação ao dólar americano.
Entre as áreas mais duramente atingidas encontra-se a África Subsaariana, que se concentra cerca de 60% da população mais pobre do mundo.
Para este continente, o crescimento do rendimento per capita ao longo deste ano e do próximo deverá atingir em média apenas 1,2 por cento, “valor que poderá fazer subir as taxas de pobreza, e não baixar”, adverte o Banco Mundial.
O relatório também menciona os desafios enfrentados pelos pequenos Estados com uma população de 1,5 milhões ou menos, que têm sido especialmente afectados pela pandemia. Estes também sofrem frequentemente perdas relacionadas com desastres climáticos “que representam em média cerca de 5% do PIB por ano”, disse o banco.