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El Mundo: Angola olha para o futuro

Antonio Asencio Guillen, director da Sigma Dos, empresas de sondagens que há meses faz trabalho de campo em Angola, escreve sobre o processo eleitoral no El Mundo e sobre a sondagem que aponta para um resultado do MPLA na ordem dos 57%.

Por ANTONIO ASENCIO GUILLEN*

O país africano tem pela frente as suas quintas eleições gerais a 24 de Agosto, sendo o partido no poder o favorito.

Para os espanhóis, Angola é um desconhecido. Os adeptos de basquetebol com mais de 40 anos lembram-se do “angolazo” com uma certa mágoa. Nos Jogos Olímpicos de 1992, a selecção espanhola, com Epi, Herreros e Villacampa, foi eliminada por 20 pontos contra uma humilde Angola liderada por Conceiçao. O “angolazo” foi o Waterloo do eterno treinador espanhol Díaz Miguel, que daria lugar a Lolo Sáinz.

Em Angola, onde está a equipa Sigma Dos a trabalhar nas eleições de 24 de Agosto, os meus colegas angolanos recordam o feito desportivo com um sorriso de orgulho. Um sorriso que se transforma em tristeza quando se lembram que, no mesmo ano, 1992, a guerra civil regressou após as primeiras eleições democráticas, depois de UNITA não ter reconhecido a vitória do MPLA, o partido que liderou a libertação do país em 1975. “Havia esperança na paz, mas falhou. A guerra trouxe muita miséria: aprendemos a praticar desporto com bolas que fazíamos de plástico ou papel”, diz-nos Márcio, ao almoço. “As mães costumavam fazer frigideiras ou panelas a partir de latas”, acrescenta Isabel.

As guerras em Angola marcaram várias gerações: primeiro, a guerra contra os portugueses, até 1975. Após a independência, começou uma guerra civil, depois da invasão do exército sul-africano, aliado da UNITA, na qual Cuba se envolveu para apoiar as forças do MPLA. A guerra terminou definitivamente em 2002, com a morte do líder da UNITA Jonas Savimbi, e um processo de reconciliação nacional proposto pelo recentemente falecido líder histórico do MPLA, José Eduardo dos Santos.

Desde 2002, Angola viveu 20 anos de paz e desenvolvimento (“Paz e Desenvolvimento” é precisamente o slogan do MPLA), que serviram para trazer estabilidade ao país, aprovar a Constituição, em 2010, realizar quatro eleições gerais e uma mudança na Presidência da República, dentro do mesmo partido, MPLA, que em 2017 passou de José Eduardo dos Santos para o seu ministro da Defesa, João Lourenço (JLo), um defensor da luta contra a corrupção dentro e fora do seu próprio partido.

Nestas duas décadas, aceleraram-se as reformas que estão a transformar as infra-estruturas do país e o seu perfil social e económico. As exportações do petróleo foram decisivas. Luanda criou um “skyline” de arranha-céus modernos na orla marítima, que coexistem, no entanto, com bairros ainda não pavimentados. As contradições são inerentes a um país com uma profunda desigualdade histórica. Espera-se que o novo aeroporto internacional, que será inaugurado no próximo ano, dê um impulso económico definitivo à capital.

É surpreendente notar que aqueles movimentos de libertação que historicamente se chocaram com as armas, o MPLA e a UNITA, são hoje partidos políticos que resolvem os seus projectos nas urnas. Nas suas agendas estão os principais problemas de Angola, tais como levar água corrente e electricidade aos 50% da população que ainda não os tem; acabar com a fome; industrializar o país e diversificar a economia; construir estradas, hospitais e centros num território equivalente ao de Espanha e França juntos. Para além destas necessidades básicas, que o Presidente João Lourenço recorda nos seus comícios, onde apresenta soluções concretas e defende outros objectivos tais como “preservar o ambiente e, ao mesmo tempo, criar um bom ambiente empresarial que crie empregos e expectativas para os jovens”.

Os jovens, que não viveram a guerra e seguem a política nas redes sociais, são a grande incógnita destas eleições, o desafio para um partido que faz da memória histórica o seu principal activo. João Lourenço enfrenta o desafio de atrair os mais jovens com promessas credíveis e um estilo de comunicação mais acessível. Nas últimas eleições, JLo prometeu criar meio milhão de empregos, mas a Covid-19, que forçou o confinamento, travou os seus planos. O seu adversário, Adalberto da Costa Júnior, líder da UNITA, viu nestes jovens mais cépticos a sua grande oportunidade de crescer nas urnas.

As campanhas nas redes sociais coexistem aqui com os tradicionais “eventos políticos de massas”, que podem exceder 100.000 pessoas. Nos eventos do MPLA, a presença da OMA (Organização da Mulher Angolana, distinguível pelos seus lenços amarelos), cuja força orgânica e social permitiu que as mulheres desempenhassem um papel relevante na política angolana, é marcante. Tanto que a lista do MPLA para o parlamento é uma paritária, e Lourenço apresenta uma professora universitária, Esperança Costa, como candidata à vice-presidência, enquanto o seu braço direito no MPLA é Luísa Damião, como vice-presidente.

Após os discursos, vêm os artistas locais. A política, como muitas actividades em Angola, é feita ao ritmo da música, o outro petróleo de um país que olha para o futuro para ganhar algo mais do que jogos de basquetebol: a prosperidade das novas gerações de angolanos.

 

SONDAGEM SIGMA DOS, UMA VITÓRIA ESMAGADORA PARA MPLA

De acordo com a sondagem da Sigma Dos em Angola, o MPLA ganha com uma vitória clara de 57,8% dos votos, conquistando entre 130 e 138 deputados, em comparação com os actuais 150. A UNITA ficará em segundo lugar, com 37,3% dos votos e um número projectado de lugares entre 75 e 83, em comparação aos 51 que ganhou em 2017. Depois, a CASA-CE obtém 1,8% dos votos e entre 1 e 3 deputados, em comparação com 16 em 2017. Os outros cinco partidos da corrida (APN, PRS, FNLA, PNJANGO e Phumanista) lutariam para alcançar 1% dos votos válidos com um intervalo de 0-2 deputados.

Quanto aos candidatos, o índice de conhecimento de Lourenço é de 99% e o de Costa Júnior é de 93%. Cinquenta e nove por cento acreditam que Angola melhorou durante o mandato de Lourenço e 25% acreditam que piorou.

A Sigma Dos começou a trabalhar em Angola em Fevereiro de 2022 – há seis meses – e tem vindo a realizar o acompanhamento eleitoral, cujo trabalho de campo teve início a 30 de Junho. Utilizando uma metodologia mista, foram realizadas duzentas entrevistas diariamente, de segunda a sexta-feira (cem por telefone e cem presenciais) cobrindo todo o território, para um total de aproximadamente 7.000 entrevistas (margem de erro de +/- 1,31), com uma média dinâmica que tem sido renovada semanalmente de 4 em 4 dias.

*Director de Comunicação e Estratégia da Sigma Dos

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