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Preço do cacau atinge recordes históricos

No passado mês de Outubro, numa decisão sem precedentes, o Governo da Costa do Marfim, o maior produtor mundial de cacau, decidiu subir o preço de compra aos agricultores em 20%, passando para 1800 francos CFA por quilo, batendo assim, mais uma vez, o máximo histórico. A subida é ainda mais expressiva se considerarmos que, no final de 2023, o preço era de “apenas” mil francos CFA por quilo.

Recorde-se que na Costa do Marfim, o preço de compra é fixado antecipadamente pelo Estado ao início de cada campanha agrícola. Logo, a cotação do cacau é menos afectada pelas flutuações do mercado do que noutros países como os Camarões, onde o sistema é liberalizado. O cacau da Costa do Marfim representa cerca de 40% da produção mundial (mais de dois milhões de toneladas) e contribui para 14% do PIB, assegurando cerca de um milhão de empregos e sustentando cinco milhões de pessoas.

O novo preço, equivalente a 3060 dólares por tonelada, está ligeiramente acima do vizinho Gana, o segundo maior produtor mundial, com uma quota mundial de 20%, onde os preços também são fixados pelo Estado. Em Setembro, o Governo também já havia decidido subir o preço dos grãos em 45% para a campanha 2024-25 que decorre de Outubro a Junho.

Segundo as autoridades, a subida dos preços visa travar o contrabando entre a Costa do Marfim e o Gana, assim como o comércio ilegal para outros países vizinhos, como a Libéria e a Guiné-Conacri, que compram o produto a preços mais próximos da cotação no mercado global.

El Nino tem responsabilidades

No que se refere aos preços globais do cacau, a cotação subiu em flecha durante todo o ano de 2023, ultrapassando, no início deste ano, os 10 mil dólares por tonelada no mercado de futuros de Nova Iorque. O pico, de 12,261 dólares, foi atingido em Abril, tendo caído desde então até estabilizar nos 7800 (a cotação actual), devido à melhoria das expectativas de produção para a campanha de 2024-25. No mercado de Londres, os preços para entrega desde Setembro deste ano também aumentaram cerca de 170%, face a Janeiro.

A escalada dos preços deveu-se ao declínio na produção mundial de cacau, que já decorre há três campanhas agrícolas, estimada em 11% na actual campanha, segundo os dados da Organização Internacional do Cacau (ICCO) com sede na Costa do Marfim. No seu último relatório, a ICCO aumentou a estimativa do défice global de cacau em 2023-24 para cerca de 462 mil toneladas métricas, a maior escassez dos últimos 60 anos.

A quebra da produção deve-se ao impacto das alterações climáticas, em particular do fenómeno El Niño, que conduziu a um aumento da precipitação e à proliferação de doenças e pragas. Paralelamente, muitas plantações já estão no fim da vida útil e os agricultores têm dificuldades em comprar sementes novas e mais resistentes, assim como pesticidas e fertilizantes que se tornaram mais caros desde a guerra na Ucrânia.

Embalagens com menos chocolate

Perante esta situação, os grandes fabricantes de chocolate, como a Nestlé, Mars e Hershey, tentam evitar repercutir o aumento dos custos nos preços. A táctica mais popular, conhecida por “shrinkflation”, consiste em optimizar as embalagens e reduzir o tamanho do produto, sem

baixar o preço. Outras medidas são diminuir a quantidade de cacau utilizada no fabrico e aumentar a proporção de outros ingredientes, como o caramelo, fruta ou frutos secos.

De referir que segundo os dados da Food and Agriculture Organization, das Nações Unidas, o continente africano é responsável por cerca de 70% do cacau produzido no mundo. A Costa do Marfim lidera claramente (com 2,2 milhões de toneladas métricas) seguida do Gana (1,1 milhões). Camarões e Nigéria são o quinto e o sexto maior produtor, sendo a Indonésia o mais importante do continente asiático e o Equador e Brasil do americano.

Um terço da colheita anual é processada na Europa. Só nos Países Baixos são moídas 590 mil toneladas, ou seja, 12% das sementes. Já a Suíça transforma cerca de 55 mil toneladas de cacau, correspondendo a cerca de 1% da produção mundial de cacau.

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