Países amazónicos alinham posições no encontro de Belém do Pará
Catorze anos depois da última reunião, os líderes dos países Organização do Tratado de Cooperação Amazónica (OTCA) voltaram a encontrar-se em Belém do Pará, no Brasil, para negociar propostas, tentando fechar um acordo final.
Fazem parte da OTCA oito países (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) que abrigam a Floresta Amazónica. Cinco chefes de Estado do grupo vieram para a Cúpula da Amazónia, enquanto os presidentes do Equador, Suriname e Venezuela enviaram representantes para participar das discussões. Nicolás Maduro, da Venezuela, que tinha confirmado presença, cancelou à última hora a deslocação alegando problemas de saúde.
No discurso de abertura do encontro, o presidente Lula disse que é urgente que os países cooperem entre si para superar problemas comuns e promover uma nova economia sustentável para a região.
“Nunca foi tão urgente retomar e ampliar essa cooperação. Os desafios da nossa era, e as oportunidades que surgem, demandam uma acção conjunta. Precisaremos conciliar a proteção ambiental com a inclusão social; o fomento à ciência, tecnologia e inovação; o estímulo à economia local; o combate ao crime internacional; e a valorização dos povos indígenas e de comunidades tradicionais e seus conhecimentos ancestrais”, declarou Lula.
O presidente brasileiro acabou por discursar duas vezes. No segundo discurso, Lula declarou que a Amazónia é um passaporte para os países da região saírem de uma posição subalterna de fornecedores de matéria-prima: “Num sistema internacional que não foi construído por nós, foi nos reservado historicamente o lugar subalterno de fornecedores de matérias-primas. A transição ecológica justa permite-nos alterar este quadro. A Amazónia é o nosso passaporte para uma nova relação com o mundo, uma relação mais simétrica, na qual nossos recursos não serão explorados em benefício de poucos, mas valorizados e colocados a serviço de todos. Todo o mundo, em qualquer lugar que eu vou, só fala da Amazónia e agora é a Amazónia que levanta a sua voz para falar para o mundo.”
Há um consenso entre os líderes de que é necessário estabelecer uma nova relação com a Amazónia e fortalecer a união entre os países da OTCA para enfrentar a crise climática que ameaça biodiversidade e o futuro do planeta, mas alguns temas ainda geram divergências.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que o planeta está a avisar que o momento é de mudança, acabando por tecer duras críticas à exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas. “Aqui surge um conflito ético enorme, especialmente para as forças progressistas, que deveriam estar sintonizadas com a ciência. O planeta agora precisa deixar de usar o petróleo, o carvão e o gás”, afirmou.
Fora de centro de convenções, onde decorre a cimeira, houve protestos encabeçados por Raoni, uma das principais lideranças indígenas mundiais, que liderou uma marcha de repúdio à violência em territórios indígenas.
Ontem, terça-feira 8 de Agosto, ao final do dia, a Cúpula da Amazónia divulgou uma carta de intenções. Denominada Declaração de Belém, esta apresentou mais de 100 objectivos a serem implementados pelos países da OTCA, contudo o documento não estabelece prazos nem indicadores a serem alcançados.