Estamos juntos

Os tempos de Navalny na prisão revelados pelo New York Times

Cartas trocadas com amigos. Foi este o acervo documental que permitiu ao jornal norte-americano New York Times (NYT) traçar um retrato de como foram os últimos meses de Alexei Navalny – o maior opositor do regime de Putin que morreu na passada sexta-feira, dia 16 – primeiro numa prisão de alta segurança a vários quilómetros de Moscovo e, mais recentemente, na prisão “Lobo Polar”, na Sibéria.

Navalny referiu aos amigos que encontrou conforto na literatura, inclusive em livros de memórias, que costumava “desprezar”. “Mas na realidade são incríveis”, escreveu, numa carta datada de Abril, dirigida a Ilya Krasilshchik, um empreendedor russo que está exilado em Berlim e que cedeu cartas ao NYT.

Noutra missiva enviada ao empreendedor, chegou a admitir que até apreciava as audiências em tribunal, que começaram a ser mais frequentes à medida que Moscovo apresentou sucessivos casos criminais. “Distraem e ajudam a passar o tempo mais depressa”, escreveu. “Além disso, são uma fonte de algum entusiasmo e geram alguma coisa para tentar perseguir.”

Era nessas audiências que Navalny aproveitava para expressar o seu desprezo para com o sistema judicial russo – em Julho de 2023, disse que o juiz era “louco” – e aproveitava para trocar algumas informações com a sua equipa.

De forma irónica, Nalvany chegou a protestar, não contra as condições das celas pouco ventiladas e húmidas, mas sim contra a regra de cada prisioneiro só poder ter um livro na cela. “Quero ter dez livros na minha cela”. De acordo com o NYT, era frequente que, nas cartas, Navalny discutisse livros e pedisse recomendações de mais obras. Na prisão, leu 44 livros em inglês num ano.

Uma das recomendações de livros terá sido uma biografia sobre Robert F. Kennedy, assassinado em 1968. Navalny trocou cartas com Kerry Kennedy, activista e filha de Robert Kennedy. Segundo o jornal, Navalny terá dito que “chorou duas e três vezes” ao ler o livro sobre a vida de Kennedy.

Nas cartas, Navalny chegou a falar com Evgeny Feldman, o fotógrafo russo que está exilado por ter fotografado a campanha presidencial do opositor russo. Trocavam opiniões sobre comida, mas também sobre assuntos internacionais, como a saúde de Joe Biden, o possível regresso de Trump, que Navalny dizia parecer “muito assustador”, ou a situação na Faixa de Gaza.

Não havia apenas questões políticas nas cartas. Até a morte de Matthew Perry, o actor que morreu em Outubro, foi mencionada nas últimas missivas de Navalny para Feldman. Apesar de nunca ter visto a série “Friends”, onde Perry era um dos protagonistas, o russo contou ao amigo que ficou “comovido” com o obituário sobre o actor que leu na revista The Economist.

Notícias relacionadas
Comentários
Loading...