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Bassirou Diomaye Faye é o novo presidente do Senegal

Mesmo sem resultados finais oficiais, Diomaye Faye, o principal candidato da oposição no Senegal, discursou esta segunda-feira, dia 25, como o novo Presidente do Senegal, dizendo que “o povo senegalês escolheu romper com o passado, para dar corpo às imensas esperanças suscitadas pela nossa visão da sociedade.”

“Comprometo-me a governar com humildade e transparência e a lutar contra a corrupção a todos os níveis. Comprometo-me a dedicar-me plenamente à reconstrução das nossas instituições e ao reforço das bases do nosso modo de vida em comum”, prometeu o Presidente eleito do Senegal.

Com mais de 90% dos votos contabilizados, Faye, o candidato antissistema, soma cerca de 54% da preferência dos 7 milhões de senegaleses chamados a votar no passado domingo, deixando para trás o maior rival nesta corrida presidencial, Adamou Ba, que obteve 36%.

Adversários políticos reconheceram a vitória de Faye

Apesar da resistência nas primeiras horas pós-votação, Amadou Ba, reconheceu a vitória do opositor. Logo na manhã pós-eleitoral, o Presidente cessante Macky Sall congratulou Diomaye Faye pela vitória, declarando nas redes sociais que “esta é uma vitória da democracia senegalesa”.

Aquele que será o novo Presidente do Senegal devolveu o aparente elogio ao Presidente cessante, pela realização transparente das eleições presidenciais. “Saúdo a atitude do Presidente Macky Sall, cuja vigilância e empenho permitiram garantir uma eleição livre, democrática e transparente, assegurando um resultado reconhecido por todos os protagonistas. Ao mesmo tempo que lamento a dor e o sofrimento dos últimos anos, as vidas que foram destruídas e as que se perderam, gostaria de reconhecer e saudar o apego do nosso povo à democracia, à justiça e à igualdade”, afirmou.

A sociedade civil também já se pronunciou sobre a eleição. Ababacar Fall, director da ONG GRADEC e observador eleitoral, citado por agências internacionais, afirmou que estes resultados traduzem o desejo profundo do povo senegalês por uma mudança. “À luz de tudo isto, das injustiças, das detenções, dos acontecimentos, das manifestações que foram brutalmente reprimidas com a sua quota-parte de mortos. Há uma bipolarização que começou, digamos, a tomar forma há muito tempo e um desejo do povo senegalês, um desejo profundo de avançar para a mudança. Foi a isso que assistimos. Foi por isso que senti, desde o início, que deveríamos esperar, digamos, uma eleição presidencial referendária”, avalia o observador da sociedade civil.

Quem é Bassirou Diomaye Faye

De inspector fiscal, passando por recluso, a Presidente do Senegal. Este foi o percurso de Bassirou Diomaye Faye. Nascido na década de 80, em Ndiaganiao, no centro-oeste do Senegal. Antes de entrar para a política, trabalhou como inspector fiscal no departamento de impostos e propriedades do Governo, onde foram fundamentais para a formação de um sindicato e onde conheceu Ousmane Sonko, o rosto da oposição senegalesa.

Em Abril de 2023, Faye foi detido sob a acusação de difundir notícias falsas, desacato ao tribunal e difamação de um organismo constituído, por causa de uma publicação nas redes sociais. Três meses depois, foi a vez de Sonko ser detido por um crime sexual, mas também por incitamento à insurreição, associação criminosa no âmbito de um projecto terrorista e atentado à segurança do Estado.

Faye e Sonko foram libertados no dia 14 de Março, dias antes da votação, após a aprovação de uma lei de amnistia este mês.

Bassirou Diomaye Faye apresentou-se como uma figura antissistema, tendo sido a escolha do Patriotas Africanos do Senegal para o Trabalho, a Ética e a Fraternidade, para representar a oposição, perante a impossibilidade de Sonko concorrer às eleições presidenciais.

Quis a ironia do destino que Faye, no dia em que celebrou 44 anos de vida, fosse pré-anunciado como o novo Presidente do Senegal. Ao discursar esta segunda-feira ao país, fez questão de lembrar o nome de Sonko e não esqueceu o fardo social, causado pela crise política nos últimos meses:

“Esta eleição teve lugar num contexto marcado por uma crise pré-eleitoral que custou vidas, deixou muitos feridos e viu muitos patriotas serem presos. Pretendemos virar esta página, reconciliar os corações, reconciliar o povo senegalês, e começar a trabalhar sem descanso para marcar e realizar as esperanças suscitadas pela minha eleição e pelo projecto que levo por diante. Reservo uma menção especial para um homem. Acho que não preciso de o mencionar. É o Presidente Ousmane Sonko.”

Mundo saúda novo presidente

Diomaye Faye aproveitou também para se dirigir à CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) e à comunidade internacional, afirmando que o Senegal será um “amigo e aliado seguro e fiável” para os países dispostos a estabelecer uma “cooperação virtuosa, respeitosa e mutuamente produtiva.”

Um pouco por todo o mundo vão chegando reacções à eleição de Faye. O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, felicitou Faye pela vitória, desejando votos de sucesso para o seu mandato. Da Europa, chegou a felicitação do Presidente de França, Emmanuel Macron, que através das redes sociais manifestou estar ansioso por trabalhar com o novo Presidente do Senegal. Já os Estados Unidos da América reagiram a esta eleição como uma vitória da democracia no país africano.

Aconteça o que acontecer, fez-se história nestas presidenciais do Senegal. Bassirou Diomaye Faye tornar-se-á no mais jovem Presidente do Senegal, o quinto da história deste país da África Ocidental com 18 milhões de habitantes. E a confirmar-se os resultados provisórios, será a primeira vez, em 12 eleições presidenciais por sufrágio universal, que um candidato da oposição vence à primeira volta no Senegal.

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