António Ole expõe em Lisboa
Uma exposição individual denominada “E… o lixo vai?!”, do mestre angolano António Ole, foi inaugurada no dia 5 de Novembro, na galeria de arte .Insofar, em Lisboa.
Na exposição, que estará patente até ao dia 17 de Dezembro, constam várias obras de António Ole, desde os anos 70 até à actualidade.
Em declarações hoje, sexta-feira, ao Centro de Articulação com a Diáspora (CAD), a curadora da exposição, Inês Valle, afirmou que a mesma é o espelho da liberdade criativa e independência do próprio artista.
Segundo a fonte, se por um lado o título da exposição, alude a uma das expressões que recorrentemente ouvia das pessoas que perplexas o observavam a recolher “lixo” ou a criar obras apartir dele; por outro lado, refere-se à multiplicidade de materiais descartados pela cidade, que o artista usa na sua obra, como chapas de ferro usadas e enferrujadas, ossos, conchas, salitre, terra encarnada, madeiras devoradas por vermes e até mesmo pedaços de tintas descascadas das paredes de Luanda utilizadas como materiais “metafóricos” que abordam temas sobre memórias reais da guerra, pobreza, escravatura, destruição, que são a luta diária do povo angolano que sempre centrou a sua prática, como é perceptível a amostra.
Inês Valle continua, lembrando que António Ole constrói paulatinamente um arquivo sócio-cultural de interligações inigualável na sua obra.
Refere ainda, a título de exemplo, a obra fotográfica “Urban Choices II”, que capta cenas do quotidiano em Luanda, no Mercado de S. Paulo, onde aprensenta a vida numa cidade africana contemporânea.
Assim, dentro da vasta e eclética obra de António Ole, pintura, escultura, desenho, instalação, fotografia e cinema, aquela que o artista considera como uma das obras mais emblemáticas, é a Township Wall (n10), uma vez que se trata de um símbolo do seu desenvolvimento artístico, combinando objectos encontrados e cores contrastantes, num estilo pop art, que desenvolveu entre 1994 e 2004.
Não só de cidade vive a obra de António Ole, o mar, a água, o campo, a terra e o imatérico, também lhe vagueiam na alma.
Caminhando com frequência pelos areais da ilha de Mussulo, onde recolhe objectos que o oceano lhe presenteava, deixando-
se imbuir nas vastas paisagens de horizontes luminosos.
Numa outra obra da exposição, Ole, aborda problemáticas ambientais e económicas atuais, usando elementos do mundo natural para alertar sobre perdas irreparáveis em prol de um progresso económico, concretamente através da obra “Boi Sagrado I”.
“Esta exposição pode contribuir para um entendimento mais amplo da obra do mestre António Ole que, profunda e provocadoramente nos estremece por dentro, de tão honesta que É”, conclui a também directora artística da galeria Insofar.
António Ole nasceu em Luanda, Angola, em 1951. Estudou Cultura Afro-Americana e Cinema na UCLA (University of California, Los Angeles) e tem desenvolvido, ao longo de cinco décadas, um trabalho eclético com recurso ao desenho, pintura, colagem, escultura, instalação, fotografia, vídeo e cinema.
Inspira-se na arte tradicional como estímulo para desenvolver um discurso contemporâneo adequado ao seu tempo e circunstância. Os diferentes modos de utilização das práticas expressivas clássicas africanas atravessam toda a obra de António Ole.