Mais de 40% da população do Sudão em situação de segurança alimentar aguda
O espetro da fome paira cada vez mais sobre o Sudão. Após três meses e meio do início do conflito militar, “mais de 20,3 milhões de pessoas, ou seja, mais de 42% da população do país”, um dos mais pobres do mundo, enfrentam uma “insegurança alimentar aguda”, anunciou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), num comunicado de imprensa divulgado ontem, 2 de Agosto. Cerca de 930.000 pessoas fugiram para o estrangeiro, enquanto três milhões estão deslocadas no interior do país, segundo os últimos dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
De acordo com a FAO, as deslocações causadas pela guerra entre o exército sudanês, liderado pelo general Abdel Fattah Al-Bourhane, e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF), lideradas pelo general Mohammed Hamdan Daglo, estão a agravar a insegurança alimentar. Os combates destruíram infra-estruturas e enfraqueceram o sector agrícola. Se antes da guerra, um em cada três sudaneses já sofria de fome, actualmente, mais de metade dos sudaneses precisa de ajuda humanitária para sobreviver. As ONG e a ONU dizem que lhes é negado o acesso ao país.
Calor sufocante
De acordo com a FAO, “6,3 milhões de sudaneses encontram-se já numa situação de emergência (fase 4) da classificação de segurança alimentar da ONU, enquanto a fase 5, a mais elevada, corresponde a uma situação de fome.”
No Darfur Ocidental, onde a violência é mais intensa e os civis são perseguidos devido à sua etnia, “mais de metade da população sofre de fome aguda”, segundo a agência da ONU.
Na capital, Cartum, os combates continuam a pontuar a vida quotidiana de vários milhões de habitantes que se encontram fechados em casa, sujeitos a uma grave escassez de água, alimentos e eletricidade sob um calor sufocante. Na quarta-feira (2 de Agosto), um porta-voz do exército declarou na televisão que os ataques aéreos tinham “matado e ferido dezenas de rebeldes” no sul da capital.
Em 2021, os dois generais depuseram as armas, conjuntamente com os civis com quem partilhavam o poder desde a queda, em 2019, da ditadura islamista de Omar Al-Bashir, mas surgiram divergências sobre a integração dos paramilitares no exército. Desde o início do conflito, o general Daglo acusou o exército de querer apressar o regresso dos membros do partido do Congresso Nacional de Omar Al-Bashir, agora proibido.
Na quarta-feira, o grupo paramilitar voltou a acusar o exército de “conspirar” com o antigo regime. O exército está a “encobrir” as actividades dos funcionários do Congresso Nacional, alguns dos quais fugiram da prisão nas primeiras semanas do conflito para “recuperar o poder”, denunciou a RSF.