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Guerra no Sudão já fez para cima de 400 mortos

O número de civis mortos no Sudão tem vindo a aumentar diariamente, revelou uma fonte da Cruz Vermelha, citada pela BBC, alertando ainda para a escassez de água e electricidade. A mesma fonte referiu que a situação se tornou “insustentável” para os civis, no meio de combates entre o exército regular e a paramilitar denominada Força de Apoio Rápida (FAR).

Até agora cerca de 10.000 refugiados terão entrado no Sudão do Sul, tendo alguns fugido para outros países vizinhos. Muitos países já evacuaram diplomatas e os seus cidadãos da capital Cartum, que tem estado no centro dos combates. Ontem, dia 23, as pessoas tentavam desesperadamente abandonar o Sudão, disse Syneko, porta-voz regional do Comité Internacional da Cruz Vermelha. Muitas delas estavam sem comida nem água potável e os hospitais deixaram de funcionar, adiantou a BBC.

Mais de 400 pessoas já morreram no conflito e milhares ficaram feridas, de acordo com o último registo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Teme-se que o número real de mortos seja muito superior. Muitos dos que deixaram Cartum dirigiram-se para outras partes do país onde têm familiares, deixando o centro da cidade praticamente deserto. Mas também houve quem tivesse rumado para norte, para o Egipto, de autocarro. As autoridades do norte do Sudão do Sul disseram que cerca de 10.000 refugiados tinham chegado do Sudão nos últimos dias. Os refugiados que atravessaram a fronteira eram provenientes da Eritreia, do Quénia e do Uganda, bem como do Sudão e do Sudão do Sul. O diplomata sul-africano Carson Monyela afirmou que os combates significam que todas as rotas de saída de Cartum são “arriscadas e perigosas”. “O aeroporto continua fechado, os combates prosseguem”, adiantou à BBC. Reiterou o apelo a um cessar-fogo que permita a saída das pessoas e a entrada de ajuda.

Os grupos de ajuda humanitária alertaram para o facto de os combates no Sudão terem conduzido a uma enorme crise humanitária no país. Vários acordos de cessar-fogo têm sido ignorados, incluindo uma pausa de três dias para assinalar o feriado muçulmano de Eid al-Fitr, que teve início na sexta-feira.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas alertou para o facto de a violência poder “mergulhar milhões” de pessoas na fome, num país onde um terço da população “já luta para ter o suficiente para comer.”

O Sudão está no meio de um “apagão da Internet”, com a conectividade a 2% dos níveis normais, disse o grupo de monitorização NetBlocks na segunda-feira. Em Cartum, a Internet está em baixo desde domingo à noite. Segundo diversas fontes, as FAR – o grupo paramilitar que combate o exército – cortaram um fornecedor porque queriam impedir que o seu inimigo transmitisse programas na televisão nacional.

Entretanto, a água e a electricidade foram restabelecidas em algumas zonas da capital, mas não em todas.

Nos últimos dias, vários países têm vindo a evacuar diplomatas e civis de Cartum, que tem sido palco principal dos combates. Os EUA evacuaram, via helicóptero, cerca de 100 pessoas no domingo, numa operação que classificaram como “rápida e limpa”. A embaixada americana em Cartum está fechada, e um tweet oficial diz que não é seguro para o governo evacuar cidadãos dos EUA.

O governo do Reino Unido conseguiu retirar do país os diplomatas britânicos e as suas famílias. O Ministro dos Negócios Estrangeiros James Cleverly disse que as opções para evacuar os restantes britânicos eram “verdadeiramente limitadas.”

A Turquia – um actor-chave no Sudão – começou os esforços de evacuação por estrada da cidade sulista de Wad Medani no domingo, mas os planos de um local em Cartum foram adiados após uma “explosão” nas proximidades.

Mais de mil cidadãos da UE tinham sido retirados do Sudão, de acordo com uma actualização do chefe da política externa da UE na segunda-feira de manhã. O Canadá evacuou o seu pessoal diplomático.

Anteriormente, mais de 150 pessoas – na sua maioria cidadãos de países do Golfo, bem como do Egipto, Paquistão e Canadá – foram evacuadas por mar para a Arábia Saudita.

Longas filas de veículos e autocarros da ONU foram vistos a sair de Cartum no domingo, em direcção a Port Sudan no Mar Vermelho, transportando “cidadãos de todo o mundo”, disse um serra-leonês evacuado à agência noticiosa AFP.

Entre os que ainda estão retidos em Cartum – uma cidade de seis milhões de habitantes – houve pedidos desesperados de ajuda de muitos estudantes estrangeiros, de África, da Ásia e do Médio Oriente. Para além de Cartum, a região ocidental de Darfur – onde a FAR surgiu pela primeira vez – também foi gravemente afectada pelos combates.

A ONU alertou para o facto de cerca de 20.000 pessoas – na sua maioria mulheres e crianças – terem fugido do Sudão para procurar segurança no Chade, do outro lado da fronteira com o Darfur.

Noutras partes do país, reina uma normalidade aparente. Em Omburdman, a norte de Cartum, houve menos tiroteios e explosões do que nos dias anteriores, possivelmente para permitir a saída dos civis. Os violentos combates no exterior do quartel-general do exército cessaram.

Consequentemente, pela primeira vez desde o início das hostilidades, há mais de uma semana, as mulheres e as crianças têm saído à rua, visitando os vizinhos e indo aos mercados, que ainda têm alguns produtos básicos, como carvão e trigo. À porta das poucas padarias que permanecem abertas existem longas filas.

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